quinta-feira, 24 de março de 2011

Oi Altera Velocidades e preços da Internet ADSL e não avisa a seus clientes

Não é de hoje como é fácil perceber a falta de compromisso com que a Oi/Telemar trata seus clientes. Os atendentes se fingem de desentendidos e cobranças indevidas nas contas dos usuários são só o começo da velha história de amor e ódio pelos produtos e serviços dessa operadora.

A novidade agora é que como a Oi alterou desde outubro do ano os preços das velocidades e a velocidade máxima permitida, provavelmente com medo do Plano Nacional de Banda Larga e da competição da Gvt, todos os clientes da oi, praticamente sem exceção, não foram avisados e principalmente os clientes do Plano Oi conta Total que pelos novos planos já teriam direito a no mínimo 10 mega bits por segundo, nenhum deles sequer foi avisado da possibilidade de aumentar a velocidade, já que muitos ainda estão pagando valores acima por uma velocidade mais baixa.

Vale salientar o seguinte:

1°A velocidade mínima não é mais 300k e sim 600k por R$ 39,90;

2° Não é preciso contratar nenhum provedor para ter acesso a banda larga ADSL da Telemar isso é venda casada e proibido por Lei. Veja aqui mais informações sobre isso, na qual eu escrevi a 3 anos atrás: http://portaltecinformatica.blogspot.com/2008/02/autenticar-velox-sem-provedor.html;

3° Alias, vender velox somente se possuir telefone fixo também é venda casada.

Se atentem para os novos preços das velocidades do velox residencial:

600 k = R$ 39,90

1 mega = R$ 69,90

2 mega = R$ 79,90

4 mega = R$ 99,90

10 mega = R$ 159,90

Se atentem também para os novos preços das velocidades do velox empresarial:

1 mega = R$ 99,90

2 mega = R$ 119,90

4 mega = R$ 139,90

10 mega = R$ 179,90

Aqui onde moro (Paulo Afonso-BA) a Oi já começou a oferecer a possibilidade de até 2 mega para muitos telefones fixos da cidade outros já tem a possibilidade de até mais, mas nenhum sequer foram avisados e muitos ainda estão pagando por 300k o que hoje já é o preço de 1 mega e pior ainda que por mais 10 reais R$ 79,90 teria por direito a 2 mega. Esse preço de R$ 79,90 era o preço antigo por 600k e que muitos ainda pagam isso por ele sendo o preço atual de 2 mega.

Solução

A solução dentro da lei, mais pacifica e rápida é ligar para 103 31 da Oi e pedir para aumentar a velocidade do velox, veja os preços e a sua condição atual de pagamento e também a sua velocidade atual se tem direito ao aumento de velocidade.

A outra possibilidade é pedir pelo site da própria Oi na área de atendimento e em mudança de velocidade onde lá mesmo é possível pedir o aumento e verificar a velocidade atual e a máxima permitida. Se mesmo assim a Oi negar o aumento de velocidade, sugiro que anote os números de protocolo e ligue para 133 que é o número da Anatel (Agência do governo federal que regula e fiscaliza o setor de telecomunicações no Brasil) reclamando que a oi está negando um direito seu de aumentar a velocidade de internet sendo que foi feito o pedido e foi cancelado sem motivo. Assim existe grandes chances de você conseguir esse feito. Vale lembrar que este procedimento serve também para aquelas pessoas que tentam conseguir o velox e as atendentes dizem que não existe disponibilidade ou porta disponível, isso é conversa furada tanto é que molhando a mão de qualquer técnico das terceirizadas da Oi eles conseguem essa porta rapidinho, também rapidinho e sem custo é ligar para 133 e dizer essa história do suborno do técnico que em um instante eles acham essa bendita porta, isso já vi acontece na prática e o rapaz que reclamou na Anatel conseguiu o velox na sua casa.

Se todos os brasileiros que são clientes da Oi fizessem o que disse acima provavelmente o sistema da Oi chegaria perto do limite em muitas cidades como aqui onde vos escrevo (Paulo Afonso-BA) ela seria obrigada a Investir mais em equipamento do Tipo DSLAMS com os quais disponibilizam as portas ADSL até mesmos em bairros que ainda não possuem tais equipamentos e em mais fibra óptica no lugar dos links de rádio-enlace de microondas com é caso da minha cidade (Paulo Afonso-BA).

Conclusão

Diante do que foi exposto a Oi é uma empresa que não possui boa práticas de gestão de relacionamento com o cliente e faz muito pelo contrario derruba qualquer relação de apreço que os clientes ainda poderiam ter com a empresa e o pior que ela sabe disso, acontece é que onde não existe concorrência ela faz isso mesmo, como foi mostrado em poucas palavras. Mas isso não algo exclusivo da oi e sim algo em comum a muitas empresas de telecomunicações que ao invés de brigarem por mais clientes atraindo-os pelo melhor atendimento e serviços de qualidade parece que preferem brigar pelas primeiras colocações nas listas de reclamações do Procon, quem dera que fosse pela preferência do Cliente. Mas infelizmente a oi resume bem isso nas propagandas que faz, na qual no início é tudo bonito fácil de conseguir, serviços atraentes e baratos sem arrodeios, clientes cheio de direitos, mas no final a verdade aparece, um monte de criancinhas dizendo “Oi” que supostamente representa como essa empresa lhe trata, como uma pessoa ingênua capaz de acreditar em contos de fadas e fácil de ser enganada.

Com informações do http://portaltecinformatica.blogspot.com/2011/03/oi-altera-velocidades-e-precos-da.html

quarta-feira, 23 de março de 2011

Obstáculos aos direitos humanos no Brasil

Reproduzo reportagem de Lúcia Rodrigues, publicado na revista Caros Amigos:

O Brasil é o país mais atrasado do Cone Sul quando o assunto é direitos humanos. Enquanto Argentina, Chile e Uruguai já condenaram centenas de agentes do Estado que perseguiram, sequestraram, torturaram e assassinaram milhares de ativistas de esquerda durante os anos de chumbo, aqui nenhum repressor sentou no banco dos réus.

O máximo que se conseguiu até agora foi uma sentença da Justiça paulista reconhecendo publicamente o ex-comandante do DOI-Codi de São Paulo, Carlos Alberto Brilhante Ustra, como torturador. A sentença, no entanto, é apenas declaratória, não tem desdobramento penal. E ele continua solto.

A diferença na condução das questões ligadas aos direitos humanos pelo Brasil e por seus vizinhos é abissal. Na Argentina, por exemplo, já ocorreram mais de 700 julgamentos de militares com condenações, inclusive, à prisão perpétua.

Mas qual seria o motivo de tanta benevolência por parte do Estado brasileiro para com seus criminosos de farda? A chave para o enigma deve ser procurada no baú de empresários que financiaram o golpe e sustentaram ditadura durante mais de duas décadas.

Praticamente todas as empresas envolvidas com a repressão continuam atuando no mercado. Agora não mais financiando os fios elétricos que descarregavam voltagem no corpo dos “subversivos” nos anos 60 e 70. Os tempos são outros. Uma demão de verniz conferiu a um passado sombrio o brilho da plasticidade democrática.

Esses empresários continuam doando polpudas quantias, mas agora na forma de contribuição declarada ou de recursos não contabilizados, como é conhecido popularmente o famoso caixa dois das campanhas eleitorais.

Paralelamente à atividade econômica que continuaram desenvolvendo, se converteram nos grandes timoneiros do rumo político do país. Como se sabe generosidade tem limites. E apoio é via de mão dupla: pressupõe contrapartida. Lógico supor, então, que uma das imposições a seus financiados é para que estes impeçam qualquer possibilidade de envolvimento de seus nomes e da suas empresas em escândalos dessa magnitude.

Não é difícil imaginar o desgaste, que uma revelação dessa envergadura, provocaria na imagem de seus produtos. “Fica difícil justificar. A Folha perdeu leitores quando falou em ditabranda. Quando os empresários dão dinheiro (para campanhas políticas), estão dizendo: ‘limpa minha barra, senão não dou mais’. A lógica da rede de cumplicidade é essa. É um cala boca”, ressalta Ivan Seixas, representante do Fórum de Ex-Presos Políticos.

Cumplicidade

“A ditadura montou essa rede de cumplicidade quando montou a caixinha para a repressão”, frisa. Ivan destaca a Folha de S. Paulo, Rede Globo, o Grupo Ultra, Pão de Açúcar e as empreiteiras Camargo Correa e Andrade Gutierrez, como algumas das companhias que contribuíram com a repressão. “Essas empresas deram grana. Se o torturador Ustra sentar no banco dos réus vai alegar que, além de cumprir ordens, foi financiado por empresários”, destaca o ex-preso político.

Por isso, é tão difícil se fazer justiça no Brasil. Por isso, o Plano Nacional de Direitos Humanos, o PNDH 3, sofreu um ataque tão virulento dos setores mais conservadores da sociedade. Por isso, Nelson Jobim desfigurou o projeto da Comissão da Verdade. Por isso, ele é contra a abertura dos arquivos militares. Por isso, o ministro da Defesa trabalhou e trabalha contra a revisão da Lei de Anistia. Por isso, fez de tudo para evitar a condenação do Brasil na Corte de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) por violações praticadas por militares torturadores. Por isso, é tido como o artífice da trama urdida para emperrar a execução da sentença da Justiça Federal, que determina a localização dos restos mortais dos guerrilheiros do Araguaia.

Currículo ilibado na Defesa dos interesses contrários à dignidade humana é passaporte carimbado para a permanência no cargo de um governo que não tem interesse em acertar as contas com o passado. Corre nos bastidores que Jobim teria permanecido no cargo, porque Lula teria bancado seu nome junto à presidente Dilma.

“Eu tenho absoluta certeza de que foram ordens, recomendações, como se queira chamar, do Lula. O recado é: mantenha a mesma política de empurrar (os direitos humanos) com a barriga”, frisa Angela Mendes de Almeida, coordenadora do Observatório das Violências Policiais – PUC-SP.

Verdade

Essa não foi a primeira vez que Lula deu respaldo a Jobim. Na queda de braço que travou com o colega Paulo Vanucchi sobre o PNDH 3, também contou com a anuência do ex-presidente da República, o que obrigou Vanucchi a recuar. O ex-preso político e primo de militante assassinado sob tortura pela ditadura teve de engolir as alterações propostas ao texto original.

O PNDH incorporou as reivindicações apresentadas por Jobim para acalmar a caserna e os empresários. A Comissão da Verdade, que o ministro da Defesa prefere chamar de comissão da conciliação, agora irá investigar os dois lados. Pela nova redação, o projeto do Executivo encaminhado ao Congresso Nacional substitui a expressão “repressão política“ por ”conflitos políticos”, o que na prática significa que as vítimas dos militares torturadores também serão investigadas. O período a ser analisado também foi ampliado para os anos de 1946 a 1988, para descaracterizar uma investigação dos anos de chumbo.

“Nós já fomos processados e condenados. Respondemos na Justiça Militar. Nossa verdade está mais do que esclarecida. Agora, queremos esclarecer os atos de atrocidade cometidos pela repressão”, critica a representante da Comissão de Mortos e Desaparecidos de São Paulo, Maria Amélia Teles, a Amelinha.

“É uma comissão condenada ao fracasso. E não sou só eu que digo isso. Especialistas latinoamericanos afirmam que se o projeto for aprovado desse jeito, com os militares participando dessa comissão, já nasce fracassado”, enfatiza Victória Grabois, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM) do Rio de Janeiro.

“O que gera essa situação de desconfiança, dúvida, indignação?”, questiona a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, para na sequência responder: “O fato de até hoje o Estado não ter conseguido resgatar e oferecer às famílias a verdade sobre o que aconteceu com seus entes queridos. Enquanto não chegarmos a isso, todos nós não teremos tranquilidade”.

Maria do Rosário considera a abertura dos arquivos militares peça-chave para a elucidação dos fatos. “É um desafio importantíssimo. É preciso localizá-los. O principal aspecto para a abertura desses arquivos será o de possibilitar a localização dos restos mortais dos desaparecidos. Por isso, a Comissão da Verdade e da Memória será importantíssima”, destaca.

Reação

Apesar de o projeto que criará a Comissão da Verdade ter sido modificado para atender às reivindicações dos militares linha-dura e empresários que contribuíram com a repressão, a peça não saiu da gaveta da presidência da Câmara dos Deputados, na última legislatura, quando o vice-presidente da República, Michel Temer, ainda presidia a Casa.

A maioria dos parlamentares, que tem suas candidaturas financiadas por empresas que estiveram associadas à repressão, não querem se indispor com seus financiadores. Além disso, muitos desses parlamentares também foram peças-chave na sustentação da repressão. Vários deles integraram, inclusive, as fileiras do partido da ditadura, a Aliança Renovadora Nacional (Arena). É o caso do presidente do Congresso, José Sarney, que além de ter presidido a Arena, foi governador do Maranhão e senador por duas legislaturas pelo partido.

A derrota da revisão da Lei de Anistia, que indultou os agentes das forças repressivas, faz parte dessa rede intrincada. A decisão contrária à alteração do texto, não teve só a imposição do Supremo Tribunal Federal (STF), contou também com a empenhada atuação da Advocacia Geral da União (AGU).

E a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que condenou o Brasil no final do ano passado por violações cometidas por militares durante a ditadura, corre o risco de não sair do papel.

Na prática, a decisão da Corte permite que a Lei de Anistia seja revista. E apesar da posição favorável da ministra Maria do Rosário pelo seu cumprimento: “Sentença a gente não discute, cumpre”, sua efetivação está longe de ocorrer.

O acolhimento deve ser do Estado, em suas três esferas de poder: Executivo, Legislativo e Judiciário, mas a tendência é de que isso não ocorra. “No que cabe ao Executivo acho que devemos cumprir, mas nós não temos ingerência sobre os outros poderes”, adverte a ministra.

A luta pelo cumprimento da sentença da OEA será mais uma das muitas batalhas que as entidades defensoras dos direitos humanos deverão travar para que a justiça seja feita.

Ao que tudo indica, o atual governo manterá a linha da gestão anterior, de não mexer com o passado. “O Executivo não tenciona rever a Lei de Anistia. Faço questão de dizer isso”, antecipa a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, à reportagem de Caros Amigos.

“Pessoalmente, concordo com a visão de que essa lei estabeleceu e manteve injustiças, porque a violência do Estado não foi responsabilizada. Mas avalio que não é possível pensar em direito à verdade e à memória, se pensarmos em modificar a Lei de Anistia. Não vejo essa possibilidade. Sinceramente, o Executivo não tenciona por sua revisão”, ressalta Maria do Rosário.

A ministra considera, no entanto, que as violações aos direitos humanos que ocorrem ainda hoje no Brasil se devem ao passado repressivo que o país enfrentou. “A tortura que permanece dentro dos presídios, das casas de tratamento psiquiátrico e instituições fechadas para adolescentes se constitui como prática da ditadura. Os apenados de hoje são vítimas da tortura desse período.”

Contradição

O ex-deputado federal José Genoino vai integrar o staff do Ministério da Defesa. “O ministro Nelson Jobim está cumprindo um papel importante”, frisa, ao ser questionado sobre a contradição de assumir cargo de confiança de um ministro que atua contra a defesa dos direitos humanos.

“É um escândalo, mas tem a ver com a trajetória recente dele. Deu o passo para o lado de lá”, critica Angela Mendes de Almeida. Genoino já foi condecorado pelo Exército, pela Marinha, Aeronáutica e pelo próprio Ministério da Defesa.

“Aceitei as medalhas, não me cabe questionar quem as concedeu”, diz. A medalha do Pacificador, do Exército, também foi concedida a quem o perseguiu no Araguaia.

*****

Jobim atua para não apurar verdade sobre o Araguaia

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, é persona non grata entre ex-presos políticos e familiares de mortos e desaparecidos da ditadura. Todos o identificam como braço direito e fiel escudeiro dos militares que se envolveram na repressão a ativistas de esquerda durante os anos de chumbo.

A repulsa dos representantes de entidades de defesa dos direitos humanos não é gratuita, tem embasamento. Desde que assumiu a pasta da Defesa, em 25 de julho de 2007, o gaúcho de Santa Maria se converteu na principal voz da Esplanada dos Ministérios na defesa da não punição para os crimes de tortura e assassinato cometidos por militares nos anos 1960 e 1970.

A lista de episódios em que o Ministro da Defesa se envolveu para preservar os interesses dos militares linha-dura é extensa. O caso mais recente envolve a Advocacia Geral da União no imbróglio.

Em 30 de agosto de 2010, o coordenador geral de Ações Estratégicas da Procuradoria Regional da União da 1ª Região, o advogado Carlos Henrique Costa Leite, encaminhou petição à juíza da 1ª Vara Federal do Distrito Federal, Solange Salgado, solicitando que fosse juntado à sua sentença, que determina a abertura dos arquivos militares referentes à Guerrilha do Araguaia para a localização dos restos mortais dos combatentes assassinados pela repressão, o ofício nº 9825/CONJUR/MD-2010, de 19 de agosto, da consultoria jurídica do Ministério da Defesa, que levanta a suspeita de que desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia estariam vivos.

O ofício em questão é assinado pelo consultor do Ministério da Defesa e coordenador geral do Grupo de Trabalho Tocantins, Vilson Marcelo Malchow Vedana, e foi encaminhado à procuradora Regional da União da 1ª Região, Ana Luisa Figueiredo de Carvalho. No texto, ele informa que pesquisadores do Grupo que coordena chegaram à conclusão de que os guerrilheiros Antonio de Pádua Costa, Áurea Eliza Valadão, Dinalva Conceição Teixeira, Helio Navarro e Luiz René da Silveira e Silva estariam vivos.

No texto também é formalizado o pedido de buscas dos “mortos-vivos”. “Considerando que esclarecer a situação desses desaparecidos que ainda estariam vivos afeta diretamente a execução da sentença proferida nesta ação. E considerando também que o GTT não possui estrutura para realizar uma investigação desse porte, entende que é adequado para esse fim o acionamento do Departamento de Polícia Federal.”

Meses antes de assinar o ofício direcionado à procuradora da República, o consultor Vedana foi agraciado com a insígnia da Ordem do Mérito da Defesa no grau de comendador. A Ordem do Mérito é a mais alta condecoração concedida, pelo Ministério da Defesa, àqueles que prestam relevantes serviços às Forças Armadas.

A reportagem da Caros Amigos apurou que Jobim teria articulado a estratégia para atrapalhar a execução da sentença judicial. Dois ex-comandantes das forças de repressão no Araguaia, o tenente-coronel Lício Maciel e o coronel Sebastião Curió já haviam, inclusive, prestado depoimento à juíza.

A sentença expedida por Solange Salgado é clara. Decide pela “quebra de sigilo das informações militares relativas a todas as operações realizadas no combate à Guerrilha do Araguaia”. O texto acrescenta, ainda, que deverão ser informados os locais onde estão sepultados os corpos dos guerrilheiros, além de fornecer detalhes para a lavratura dos atestados de óbito.

A União também terá de apresentar “todas as informações relativas à totalidade das operações militares relacionadas à Guerrilha, incluindo-se entre outras, aquelas relativas aos enfrentamentos armados com os guerrilheiros, à captura e detenção dos civis com vida, ao recolhimento de corpos de guerrilheiros mortos”.

A ação julgada procedente pela juíza Solange, em 2003, foi impetrada 21 anos antes, em 1982, pelos familiares dos guerrilheiros mortos no Araguaia, conta Victória Grabois, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM) do Rio de Janeiro, que perdeu o pai, Mauricio Grabois, o irmão, André Grabois, e o companheiro, Gilberto Olimpio, no ataque militar à Guerrilha.

Essa mesma ação serviu de base para a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que condenou o Estado brasileiro em dezembro do ano passado, pelo desaparecimento e pela morte de 70 guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil (PC do B), que pegaram em armas para combater a ditadura entre os anos de 1972 e 1974 na região do Araguaia.

Ao contrário do que seria razoável supor, o governo Lula não acatou a sentença da justiça brasileira e recorreu de sua decisão. O recurso, no entanto, foi negado pelo Superior Tribunal de Justiça, que manteve a decisão da primeira instância.Em 2007, a sentença transitou em julgado, e entrou em fase de execução, que na prática significa que o Estado é obrigado a cumprir a sentença.

“Que se oficie, com urgência, ao Sr. Ministro da Defesa, para que designe dia, hora e local, até o dia 15 de dezembro do ano em curso, a fim de realizar-se audiência solene, com os membros do juízo colegiado da Sexta Turma do TRF, a fim de proceder-se à instalação dos trabalhos judiciais de quebra dos arquivos da Guerrilha do Araguaia”, frisa o relatório que nega acolhimento ao recurso interposto pela União para tentar reverter a decisão judicial.

O documento enfatiza que se trata de manter o cumprimento em julgado “sob a pena de busca e apreensão dos aludidos documentos, sem prejuízo da multa coercitiva, já estabelecida na sentença e apuração da responsabilidade criminal de quem resista às determinações mandamentais do julgado”.

Manobra

A manobra de 180 graus levada a cabo pelo governo federal, por meio do Ministério da Defesa, ao levantar a hipótese da existência de mortos-vivos do Araguaia, pretende atrasar o trâmite da execução ao desviar o foco dos trabalhos. A localização dos hipotéticos guerrilheiros que estariam vivos protela, pelo menos neste primeiro momento, a execução da sentença judicial, que determina a abertura dos arquivos militares para a localização dos guerrilheiros mortos.

A artimanha governamental coloca em xeque, inclusive, a lei 9.140/95, que reconhece a morte de todos os desaparecidos com atuação política no período entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, ao lançar uma cortina de fumaça para atrapalhar a elucidação dos fatos.

“Não temos nenhuma informação que nos faça questionar uma condição que o Estado brasileiro já reconheceu em 1995. Meu posicionamento é o da lei 9.140”, enfatiza a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário.

“A Polícia Federal não aceitou fazer investigações (sobre os ‘mortos-vivos’). Essa questão deve ser superada. Não acho razoável falarmos de pessoas vivas, não há nenhuma indicação real. É um desrespeito muito grande. Não é adequado dar sequência a essas especulações”, completa a ministra.

Maria do Rosário tem razão em não admitir que se desrespeite a memória dos mortos e se tripudie sobre a dor de suas famílias. Mas o processo que tenta fazer da lei que reconheceu a condição de mortos aos desaparecidos políticos letra morta, parece vir em gestação há algum tempo.

Segundo Studart, os três foram poupados pelos militares e receberam novas identidades. Hélio Navarro, ainda de acordo com ele, estaria vivo e teria trabalhado em uma multinacional francesa em São Paulo. O jornalista não informa, no entanto, os motivos que teriam levado os militares a pouparem a vida dos guerrilheiros.

“De uns tempos para cá começaram a aparecer essas histórias para desvirtuar o foco da decisão judicial e da sentença da OEA, ambas em nosso favor. Para mim, são informações plantadas por militares com o propósito de confundir as investigações”, frisa Elisabeth Silveira e Silva, irmã do guerrilheiro Luiz René da Silveira e Silva, acusado de ser um dos mortos-vivos da Guerrilha do Araguaia.

Beth Silveira, como é conhecida a ativista do Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM) do Rio de Janeiro, considera que os responsáveis pela violação dos direitos humanos “vão fazer de tudo para que a verdade não venha à tona”. Ela tem cópia de um documento da Marinha que atesta a morte de seu irmão.

A militante de direitos humanos conta que o irmão não teria nenhum motivo para não procurar a família caso estivesse vivo. “Sabíamos que ele ia para uma atividade guerrilheira, não era clandestino. Ele não saiu brigado com a família, nada impedia sua volta”, ressalta. Segundo Beth, enquanto esteve no Araguaia, Luiz René escreveu três cartas para a mãe. “Ele dizia que estava muito feliz.”

Em relação à acusação feita por Studart contra Hélio Navarro, Victória Grabois esclarece que o guerrilheiro assassinado no Araguaia é vítima de uma sórdida difamação. “Quando a avó do Hélio morreu, deixou um terreno no subúrbio do Rio de Janeiro, que era alugado para o Carrefour. O Hélio entrou na herança. A mãe dele, dona Carmem, chegou a abrir uma conta no Banco do Brasil para depositar o dinheiro da venda desse terreno, queria deixar um patrimônio para o filho. Sabe como é coração de mãe, no fundo tinha a esperança de que um dia ele voltasse. Por isso, fazia, inclusive, a declaração de Imposto de Renda dele.

O jornalista Hugo Studart, que acusa Navarro e os outros dois guerrilheiros de serem mortos-vivos, integra o Grupo de Trabalho Tocantins (GTT), criado pelo Ministério da Defesa em 29 de abril de 2009. Segundo texto na página do sítio do Ministério da Defesa na internet, a criação do Grupo visa dar resposta à sentença proferida pela juíza federal, que determinou a localização dos restos mortais dos guerrilheiros do Araguaia.

Em quase dois anos de trabalho, o Grupo montado pelo ministro Jobim não identificou um único cadáver. Mas apesar de não ter avançado um milímetro na elucidação dos fatos, o Grupo de Trabalho Tocantins consumiu, entre os anos de 2009 e 2010, R$ 4.615.178,19 com despesas de operação.

“O Grupo de Trabalho Tocantins quer esquecer a guerrilha até no nome. A guerrilha ocorreu no Araguaia, então deveria ser Grupo de Trabalho Araguaia, e não Tocantins. Querem apagar o que aconteceu lá durante a ditadura”, critica Laura Petit da Silva, da Comissão de Mortos e Desaparecidos de São Paulo. Ela perdeu três irmãos no Araguaia, Maria Lúcia Petit da Silva, Jaime Petit da Silva e Lúcio Petit da Silva.

A preocupação de Laura faz sentido. O Estado de Tocantins nem existia à época da Guerrilha do Araguaia. A região onde os guerrilheiros do PCdoB se instalaram ficava na confluência dos Estados do Pará, Maranhão e Goiás. Tocantins surgiu no período da redemocratização. Sua fundação ocorreu em 5 de outubro de 1988 prevista nos atos das disposições transitórias da Constituição de 1988, a partir do desmembramento do Estado de Goiás.

Dos 70 guerrilheiros assassinados no Araguaia, apenas dois tiveram seus restos mortais identificados até hoje: Maria Lúcia Petit da Silva e Bérgson Gurjão. Os outros continuam a engrossar a lista de desaparecidos políticos da ditadura.

A localização das duas ossadas foi fruto da persistência das famílias. Maria Lúcia foi morta em 1972, durante a primeira incursão dos militares na região. “Nessa fase, (as forças repressivas) ainda estavam enterrando os corpos no cemitério”, conta Laura. A ossada de Maria Lúcia foi encontrada no cemitério de Xambioá, em 1991. As informações de moradores da região foram fundamentais para a localização dela.

“Encontraram o corpo da Maria Lúcia, mas o legista Badan Palhares não quis fazer a identificação porque o Romeu Tuma, que era da Polícia Federal, deu orientação para não mexer com a questão do Araguaia”, revela Laura. Apenas em 1996, cinco anos após a localização da ossada e de muita pressão de familiares, Maria Lúcia Petit da Silva foi identificada.

Os restos mortais de Bérgson também haviam sido encontrados, em 1991, junto com os de Maria Lúcia, mas aguardaram até 2009, para ser identificados. Dezoito anos de longa espera para os familiares. “Se a identificação tivesse ocorrido lá atrás teria poupado muito sofrimento para a família”, enfatiza Laura.

“O governo brasileiro jogou de uma forma muito oportunista na identificação do Bérgson. Ele só foi identificado quando a ação da OEA estava prestes a ser julgada. Foi para mostrar serviço para a OEA.

Pelo menos o Bérgson teve um enterro digno”, denuncia Maria Amélia Teles, a Amelinha, da Comissão de Mortos e Desaparecidos de São Paulo.

Até hoje, apenas cinco desaparecidos da ditadura, de uma lista de 136 nomes, foram identificados. Além de Maria Lúcia e Bérgson, foram encontrados em 1991, na vala clandestina do cemitério de Perus, em São Paulo, as ossadas de Denis Casemiro, Flávio de Carvalho Molina e Frederico Eduardo Mayr.

‘É muito pouco, muito pouco. Assumo que é muito pouco”, reconhece a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. A reportagem da Caros Amigos solicitou entrevista com ministro Nelson Jobim, mas a assessoria do Ministério da Defesa não deu retorno.

Livro e documentário reconstituem trilhas históricas da Guerra de Canudos


O livro e o documentário Canudos: novas trilhas − obras que reconstituem as trilhas históricas da Guerra de Canudos − serão lançados no dia 20 de abril, em seminário a ser realizado no Campus I da UNEB, em Salvador.

O evento, coordenado pelos professores Roberto Dantas e Manoel Neto, autores das obras, acontece às 9h, no teatro da instituição. Para participar do evento, franqueado ao público externo, não há necessidade de se realizar inscrição prévia.

As produções, que têm apoio cultural da Petrobras, são resultado de uma pesquisa de dois anos realizada na região, com a investigação de fotos, vídeos e textos preservados da época, além de depoimentos de moradores das localidades envolvidas nesse acontecimento histórico.

O livro e o documentário integram o projeto Cenários e Caminhos Históricos da Guerra de Canudos – Novas Trilhas, coordenado por Roberto Dantas, que além de fazer a reconstituição está produzindo estudos sobre as potencialidades da região, a qual compreende ainda os municípios de Monte Santo, Euclides da Cunha e Uauá.

“Estamos organizando um roteiro turístico sertanejo, a partir da fundamentação da Guerra de Canudos, com um grupo de pesquisadores das áreas de história, geografia e turismo”, adianta Roberto, que é professor do curso de turismo e hotelaria do Campus I.

A programação do evento prevê conferências, mesas-redondas, exibição de filmes e debates sobre a temática sertaneja. O reitor da UNEB, Lourisvaldo Valentim, e os prefeitos das cidades envolvidas na pesquisa estão entre os convidados da abertura do seminário.

Pesquisadores de história, geografia e turismo vão fazer roteiro turístico da região. Foto: Divulgação

Uma visita às principais cidades envolvidas na centenária guerra completa o leque de atividades previstas. Na ocasião, a equipe do projeto vai apresentar e discutir os resultados da pesquisa junto às comunidades locais.

“A importância de todas essas ações é pelo seu ineditismo. Já havia bibliografia e relatos de personagens narrando a história da guerra, mas pela primeira vez um estudo reconstitui os passos dos combatentes”, defende Dantas.

O docente lembra ainda que tanto o documentário quanto o livro não serão comercializados. “Vamos distribuí-los nas comunidades que fizeram parte da pesquisa, em bibliotecas públicas e nas bibliotecas da UNEB, principalmente nos campi que estão geograficamente localizados na região onde aconteceram os fatos.”

A iniciativa também tem apoio da Prefeitura Municipal de Monte Santo. A cidade foi moradia de Antônio Conselheiro e, entre os anos de 1896 e 1897, período dos conflitos, funcionou como base militar das forças republicanas.

Informações: betodantas.canudos@gmail.com.

sexta-feira, 18 de março de 2011

CONVITE COMEMORAÇÃO DIA DA MULHER



Por conta do Dia Internacional da Mulher, comemorado no dia 8 de março, a Organização Não-Governamental Raízes realiza na manhã deste sabado, 19 de março atividade para homenagear as mulheres. O evento acontecerá à sua sede, Rua Joana Angélica, 640 - Bairro Nª Senhora do Perpétuo Socorro, a partir das 9h, com programação que inclui atrações culturais, palestras sobre saúde da mulher, serviços diversos, sorteio de brindes preparados especialmente para as mulheres.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Movimentos sociais rechaçam visita de presidente estadunidense

Karol Assunção
Jornalista da Adital
Adital

Reproduzo artigo publicado no sítio Adital: http://www.adital.com.br/?n=bxp7

Ao que tudo indica, a visita de Barack Obama, mandatário estadunidense, ao Brasil será marcada por manifestações e protestos populares. Organizações e movimentos sociais contrários à vinda de Obama realizam, hoje (16), uma Plenária Unificada para discutir os detalhes das ações. O presidente dos Estados Unidos chega a Brasília no sábado (19), quando terá uma reunião com a presidenta brasileira Dilma Rousseff. No domingo (20), Obama discursará em um evento aberto ao público na Cinelândia, centro da cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Em convocação à Plenária de hoje, diversos movimentos sociais rechaçaram a vinda de Barack Obama ao Brasil e apontaram o mandatário estadunidense como "persona non grata”. Isso porque, segundo eles, Obama segue com a política de ocupação militar.

"Dizemos que Obama é persona non grata no Brasil porque, como latino-americanos, sabemos que a política dos Estados Unidos para a América Latina não mudou em nada. Não aceitamos a manutenção do bloqueio a Cuba, as provocações contra a Venezuela, a Nicarágua, a Bolívia e o Equador”, explicaram no comunicado.

De acordo com Emanuel Cancella, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo no Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ), a reunião de hoje será para deliberar quais manifestações acontecerão no marco da vinda de Obama ao Brasil. Segundo ele, a expectativa é que aconteçam ações nas ruas do Centro da cidade do Rio de Janeiro.

Cancella afirma que se decepcionou até com o local escolhido para a realização do discurso de Obama: a Cinelândia. "A gente se sentiu bastante ofendido com a postura de ceder a Cinelândia para o discurso do Obama, local que foi palco da luta pela democracia, foi a saída da passeata dos Cem Mil, protesto contra a ditadura militar e [contra] a morte do estudante Edson Luís”, lembra.

O dirigente sindical destaca que os movimentos sociais são contra o governo estadunidense por suas ações políticas, como as de manter a prisão de Guantánamo, em Cuba; de seguir com a instalação de bases militares nos países latino-americanos; e de interferir nas manifestações de países árabes e africanos.

Cancella apresenta ainda que a vinda do presidente estadunidense ao Brasil será para discutir questões relacionadas ao pré-sal. "A prioridade de Obama no Brasil é confiscar o pré-sal”, denuncia.
Barack Obama realiza, entre os dias 19 e 23 de março, uma vista por países latino-americanos. Além do Brasil, o mandatário estadunidense passará por Chile e El Salvador, onde discutirá com autoridades desses países questões como segurança, energia e economia.

Abaixo-assinado
A questão cubana também é lembrada pela população brasileira. A Rede das Redes em Defesa da Humanidade – Capítulo Brasileiro está com uma petição online em que pede a Barack Obama o fim do embargo a Cuba e a libertação dos "Cinco Cubanos”, presos nos Estados Unidos desde 1998 por tentar alertar Cuba sobre atos terroristas planejados em Miami.

"Apesar da campanha difamatória e da propaganda violenta Cuba resiste a todas as agressões e intempéries com dignidade. Desnecessário citar a V. Exa todos os desmandos contra Cuba, sob as mais mentirosas alegações. Assim foi a Baia de Porcos, assim foi a promessa de desativar Guantánamo, assim é a prisão dos Cinco Cubanos em prisões Estadunidense com julgamentos sem nenhum critério ético e justiça, assim foi assinado há mais de 50 anos um embargo econômico, cruel e desumano”, comenta.

O abaixo-assinado ao mandatário estadunidense pode ser lido e assinado em: http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N7847

sábado, 12 de março de 2011

A ditadura está bem viva

Artigo de Eduardo Guimarães publicado em seu blog: http://www.blogcidadania.com.br/2011/03/a-ditadura-esta-bem-viva/


As reações de chefes militares à instalação da Comissão Nacional da Verdade por meio de projeto de lei que o Poder Executivo enviou ao Congresso Nacional são apenas a ponta do iceberg que torna imperativa tal Comissão, ainda que os otimistas perguntem por que devemos revolver um passado que é mais confortável olvidar.

O resgate histórico do período de sombras que vai de 1964 a 1985, com a eleição (indireta) do primeiro civil após 21 anos de ditadura militar, não objetiva tão-somente preservar a memória do passado para evitar que se repita no futuro. Objetiva, sobretudo, combater ameaças contemporâneas.

Por doloroso que seja, é preciso constatar que a ditadura não está morta. Ela vive e paira sobre a nação.

A ditadura vive nas notas ameaçadoras que chefes militares publicam reiteradamente em desafio a presidentes como Lula e, agora, Dilma, comandantes-em-chefe das Forças Armadas. Durante a eleição do ano passado, militares cansaram de fazer ameaças diante da possibilidade de eleição da ex-guerrilheira Dilma Rousseff, por exemplo.

Mas não é só nos delírios de militares de pijama – e de outros paramentados com fardas sujas de sangue – que a ditadura subsiste.

A ditadura vive nos jovens riquinhos que espancam e discriminam homossexuais na avenida Paulista ou em qualquer outra parte do país.

A ditadura vive nos brancos de classe alta que espancam e discriminam nordestinos negros no Sul e no Sudeste.

A ditadura vive em Mayara Petruzo, a patricinha do interior de São Paulo que pregou que nordestinos e negros não tivessem direito a voto e que fossem assassinados, e nas dezenas de jovens que a apoiaram em redes sociais da internet.

A ditadura vive nos jovens que, através do Twitter, pregaram que a presidenta da República fosse assassinada por um franco-atirador no dia de sua posse.

A ditadura vive nos comentaristas da Globo como Luiz Carlos Prates, que não se conforma com a distribuição de renda que permite que “qualquer miserável” tenha um carro.

A ditadura vive em tantas delegacias de polícia em que a tortura é exatamente a mesma que a usada nos porões da ditadura militar.

A ditadura vive nos que mantém sites de extrema-direita que exaltam torturadores, estupradores e assassinos e que, não contentes em criar sites como o Ternuma, ainda saem fazendo ameaças contra os que execram o golpe de 1964.

Vejam só, logo abaixo, ameaça que um tal de “General Azevedo”, que se diz ligado ao site de extrema-direita Ternuma (Terrorismo Nunca Mais), postou ontem neste blog. Vale refletir sobre suas palavras.

—–
General Azevedo
ternuma.com.br/
189.0.16.176
Enviado em 10/03/2011 às 18:47


Os comunistóides de bosta deste blogezinho de quinta categoria estão bastante alegres e agitadinhos.

O que tenho pra dizer é que continuamos bem alertas. Não duvidem do que somos capazes. Em 1964 quanto tentaram transformar esse país numa imensa Cuba tivemos que mostrar nossa força.

Vão brincado. Uma hora a palhaçada pode acabar mal para toda cambada de energúmenos adoradores das múmias soviéticas e dos dinossauros de Cuba. Não perdem por esperar.
—–

Então: quem continua achando que a ditadura está morta? Mortos não editam blogs e não fazem ameaças, não espancam negros e homossexuais, não fazem comentários fascistas na televisão, meus caros leitores.

A ditadura vive, respira e age. Nas sombras, no mais das vezes. Mas, de quando em quando, sai à luz do sol nas notas de chefes militares, nos atos de violência e em nosso próprio cotidiano, quando, em nosso meio social, ouvimo-lhes ou lhes lemos as idéias hediondas até em grandes meios de comunicação.

Desde o fim da ditadura que os sucessivos presidentes da República fazem de conta que não vêem militares da ativa e da reserva – e até parlamentares representantes da extrema direita, como o tal de Jair Bolsonaro – esbofeteando a nação que torturaram por duas décadas e tripudiando de suas vítimas.

A Comissão da Verdade, pois, é imperativa. Só a verdade sobre aquele período de horror permitirá que seja desmascarado em sua completude. Essa Comissão é imperativa para combater a ameaça que seus agentes fazem reiteradamente não só à democracia, mas a mentes jovens que passam a crer em suas mentiras.

O preço da acomodação é vivermos sob liberdade condicional. A própria democracia ainda é mera concessão dos golpistas sobreviventes e dos adeptos dos criminosos de 1964, que continuam envenenando mentes suscetíveis com a “solução” golpista para barrar a justiça social que o povo brasileiro tenta fazer prevalecer através do voto.

Como blogueiro e ativista político, assumo o compromisso de não tergiversar nessa questão. A ditabranda não será reinstalada neste país enquanto pessoas como eu e como os que prestigiam esta página com sua leitura permanecermos vigilantes e dispostos até a ir às ruas em defesa da democracia e do Estado de Direito.

terça-feira, 8 de março de 2011

A História do Dia Internacional da Mulher

Reproduzo artigo de Vito Giannotti, publicado no sítio do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC):
http://www.piratininga.org.br/memoria/mulheres-vito.html

Quando começou a ser comemorado o Dia Internacional da Mulher? Quando começou a luta das mulheres por sua libertação? Qual é a influência do movimento socialista na luta das mulheres? E o 8 de Março, como nasceu? A data teve origem a partir do quê? Onde? Estas e outras questões mereceram uma atenção especial em 2003, quando nos jornais e na Internet apareceram repetidamente versões diferentes. Todas, no entanto, esqueceram a palavra-chave, que está na luta da mulher por sua libertação: mulher “socialista”.

Em 2003, nas vésperas do 8 de Março, o jornal cearense O Povo publicou um longo artigo de uma professora da Universidade Federal do Ceará (UFCE) que deixou muita gente assustada. O mesmo aconteceu com vários artigos que circularam pela Internet.

Para encarecer a dose, logo após a comemoração do Dia Internacional da Mulher, em 2003, o novo jornal que acabara de sair, Brasil de Fato, no seu número 1, também trazia um artigo da mesma professora da UFCE, Dolores Farias, que reafirmava o que ela havia escrito no jornal O Povo, dias antes.

Houve pessoas que ficaram furiosas com a contestação da origem da data do Dia Internacional da Mulher. Procurando entender o porquê desta confusão. Na verdade, a questão da origem do 8 de Março já é discutida há uns 40 anos. Em 1996, o Jornal do Brasil trazia um artigo da professora da UFRJ, Naumi Vasconcelos, no qual ela dizia que a tal greve de Nova Iorque, em 1857, quando teriam morrido 129 operárias queimadas vivas, nunca existiu. E ela afirma que a origem desta data é bem outra.

No mesmo ano, em março, Conselho de Classe jornal do SEPE, Sindicato dos Profissionais de Educação da rede pública do Estado do Rio de Janeiro, trazia um artigo da mesma professora Naumi, com o título sugestivo de: Quem tem medo do 8 de Março? Este mesmo texto da Naumi já tinha sido publicado no mensário Em Tempo, pouco antes.


Uma pesquisa de 12 anos

Neste artigo, a autora citava, como fonte fundamental para a discussão, um livro de uma pesquisadora canadense intitulado: O Dia Internacional da Mulher – Os verdadeiros fatos e datas das misteriosas origens do 8 de março, até hoje confusas, maquiadas e esquecidas.

Este livro, da autora canadense Renée Côté, saiu em 1984, mas estranhamente ficou esquecido por várias razões. O livro da Renée é totalmente antiacadêmico, anticonvencional. Mas, mais do que a forma, o que fez o livro cair em esquecimento é o que ela afirma, que incomoda muita gente. Ela prova por a+b, ao longo de 240 páginas, que as certezas criadas nos anos de 1960, 70 e 80 pelos movimentos feministas, a respeito do surgimento do 8 de Março, são pura ficção.

Ela derruba um mito caro às mulheres feministas, que tanto penaram para afirmar esta data. Além disso, o livro acabou caindo no esquecimento porque é mais fácil aceitar versões já consolidadas de histórias, caras às nossas vidas, do que questionar mitos estabelecidos. Assim como, para muitos, é mais fácil aceitar a historinha de Adão e Eva, criados do barro, uns seis mil anos atrás, do que questionar as origens do homem, bem mais complexas, centenas de milhares de anos atrás.

Há um outro fator determinante que fez o livro da autora canadense cair no limbo: ela deixa transparecer, o tempo todo, sua visão favorável à autonomia dos movimentos sociais frente aos partidos e mostra uma prevenção à própria idéia de partido político.

O livro se insere no grande leito de luta autonomista, típica dos movimentos de esquerda dos anos 70. Isto cria uma animosidade com muitos setores da esquerda mais influente, que poderiam divulgar sua obra. Mas, deixando de lado simpatias, ou alergias, vamos entrar no cipoal deste mito.

A explicação da origem do mito da greve de Nova Iorque de 1857, nos EUA, e do esquecimento de outra greve real, concreta e julgada inoportuna pelo Partido e pelo Sindicato, de 1917 na Rússia, vamos ver só no final do artigo. A questão-chave é ver por quê, no mundo bipolar da Guerra Fria dos anos 60 do século passado, os dois blocos em disputa aceitaram a versão de uma greve de mulheres, em 1857, nos EUA, e esqueceram uma outra greve de mulheres, em 1917, na Rússia. Os motivos são mais políticos que psicológicos.

Há vários estudos, cada um acompanhado de uma vasta bibliografia, que vão no mesmo sentido das pesquisas da Renée Côté. Entre eles destacamos os artigos “8 de Março: Conquistas e Controvérsias” de Eva A. Blay, de 1999. Outro estudo é de Liliane Kandel, de 1982, “O Mito das Origens: sobre o Dia Internacional da Mulher”. Outro texto muito rico é da Sempreviva Organização Feminista (SOF), de 2000, “8 de Março, Dia Internacional da Mulher: em busca da memória perdida”. Vamos apresentar a síntese destas recuperações históricas.


O clima mundial quando nasceu o mito de 1857

Na década de 60 o mundo vivia uma grande convulsão político-ideológica. Somente no começo dos anos 70, o jogo se define e o bloco ocidental americano, isto é, capitalista, leva a melhor sobre o bloco soviético, socialista. A chegada do homem à lua, por parte dos americanos, em 69, definiu o destino da humanidade por várias décadas e, quem sabe, séculos. A URSS, a partir dessa data, entra em rápida decadência e o bloco americano caminha rumo ao império neoliberal mundial.

Esta década foi um vendaval nos costumes e ideologias do mundo. Mexeu com todo o equilíbrio político-cultural do planeta. Os anos 60 começam com a vitória do povo da Argélia contra o colonizador francês que foi o estopim das guerras de libertação no Congo, Senegal, Nigéria, Ghana e em toda a África.

A China vivia sua Revolução Cultural, com o famoso Livro Vermelho de Mao Tse Tung, que influenciava milhões de jovens no mundo inteiro. O Vietnã, após ter derrotado a França em 54, enfrentava e preparava a derrota do maior exército do mundo. Os países ex-coloniais tinham criado o movimento dos Não-alinhados. O mundo árabe, sob a liderança de Nasser, começava a se mexer.

Enquanto isso, a Revolução Cubana, com os barbudos Fidel e Che, era um modelo para os revolucionários da América Latina e do mundo.

No bloco soviético, aumentava a contestação interna com a Primavera de Praga, em 68, na República Tcheca. Enquanto isso, a Igreja Católica vivia as dores do parto do nascimento da Teologia da Libertação, pós-Concílio Vaticano II, que negava o apoio a exploradores, opressores, colonizadores e senhores da guerra, com suas cruzadas, e começava a falar em libertação dos oprimidos.

No mundo ocidental, os costumes tradicionais eram contestados pela entrada em cena do mundo jovem: Beatles, Woodstock, Black Power, movimento hippie e Panteras Negras. Na América Latina, faziam-se guerrilhas contra ditadores representantes do capital local e capachos do imperialismo americano.

As mulheres americanas e européias haviam descoberto a pílula e as dos países do Terceiro Mundo, a metralhadora, nas guerrilhas lado a lado com os homens.

No Ocidente, os estudantes passaram dos livros de Marcuse a Alexandra Kollontai e Wilhem Reich com sua Revolução Sexual e A Função do Orgasmo. As mulheres americanas se manifestavam contra a Guerra do Vietnã e falavam em Women's Lib, libertação das mulheres.

Os estudantes erguiam barricadas em Paris, tomavam as ruas em Praga, Berkley e Rio de Janeiro e falavam de revolução e de amor: revolução social e sexual. E as feministas nas suas manifestações falavam de “mística feminina” e queimavam sutiãs nas praças públicas.

Nesse caldeirão cultural mundial, em Chicago, em 1968 e em Berkley, em 69, se retoma, através de boletins e jornais feministas, a idéia do Dia Internacional da Mulher. Só que se esquece de que no começo do século, quando nasceu o Dia da Mulher, se acrescentava a qualificação de socialista. Este dia tinha caído no esquecimento, enterrado por sucessivas avalanches históricas.

As duas guerras mundiais, a burocratização stalinista da União Soviética e o avanço do capitalismo ocidental na sua versão clássica americana, ou na sua versão socialdemocrata européia, cada vez menos socialista, não tinham interesse em comemorar o 8 de Março.

Nos países comunistas, após a 2ª Guerra Mundial, voltaram as comemorações do 8 de Março. Mas estas eram mais para louvar a política dos seus respectivos governos do que para encaminhar a luta pela total libertação da mulher.

É nesse clima político-ideológico que será retomada a idéia de se comemorar uma data internacional para a luta de libertação das mulheres.


A origem do mito da greve de 1857

O que estamos acostumados a ler nos boletins de convocação do Dia da Mulher é a história de uma greve, que aconteceu em Nova Iorque, em 1857, na qual 129 operárias morreram depois de os patrões terem incendiado a fábrica ocupada.

A primeira menção a essa greve, sem nenhum dos detalhes que serão acrescentados posteriormente, aparece no jornal do Partido Comunista Francês, na véspera do 8 de Março de 1955. Mas onde se dá a fixação da data do 8 de março, devido a esta greve, é numa publicação, que apareceu em Berlim, na então República Democrática Alemã, da Federação Internacional Democrática das Mulheres. O boletim é de 1966.

O artigo fala rapidamente, em três linhas, do incêndio que teria ocorrido em 8 de março de 1857 e depois diz que em 1910, durante a 2ª Conferência da Mulher Socialista, a dirigente do Partido Socialdemocrata Alemão, Clara Zetkin, em lembrança à data da greve das tecelãs americanas, 53 anos antes, teria proposto o 8 de Março como data do Dia Internacional da Mulher.

A confusão feita pelo jornal L ´Humanité não fala das 129 mulheres queimadas. Aonde se começa a falar desta mulheres queimadas é na publicação da Federação das Mulheres Alemã, alguns anos depois. Esta historinha fictícia teve origem, provavelmente, em duas outras greves ocorridas na mesma cidade de Nova Iorque, mas em outra época. A primeira foi uma longa greve real, de costureiras, que durou de 22 de novembro de 1909 a 15 de fevereiro de 1910.

A segunda foi uma outra greve, uma das tantas lutas da classe operária, no começo do século XX, nos EUA. Esta aconteceu na mesma cidade em 1911. Nessa greve, em 29 de março, foi registrada a morte, durante um incêndio, causado pela falta de segurança nas péssimas instalações de uma fábrica têxtil, de 146 pessoas, na maioria mulheres imigrantes judias e italianas.

Esse incêndio foi, evidentemente, descrito pelos jornais socialistas, numerosos nos EUA naqueles anos, como um crime cometido pelos patrões, pelo capitalismo.

Essa fábrica pegando fogo, com dezenas de operárias se jogando do oitavo andar, em chamas, nos dá a pista do nascimento do mito daquela greve de 1857, na qual teriam morrido 129 operárias num incêndio provocado propositadamente pelos patrões.

E como se chegou a criar toda a história de 1857? Por que aquele ano? Por que nos EUA? A explicação, provavelmente, é a combinação de casualidades, sem plano diabólico pré-estabelecido. Assim como nascem todos os mitos.

A canadense Renée Côté pesquisou, durante dez anos, em todos os arquivos da Europa, EUA e Canadá e não encontrou nenhuma traça da greve de 1857. Nem nos jornais da grande imprensa da época, nem em qualquer outra fonte de memórias das lutas operárias.

Ela afirma e reafirma que essa greve nunca existiu. É um mito criado por causa da confusão com as greves de 1910; de 1911, nos EUA; e 1917, na Rússia.

Essa confusão se deu por motivos históricos políticos, ideológicos e psicológicos que ficarão claros no fim do artigo.

Pouco a pouco, o mito dessa greve das 129 operárias queimadas vivas se firmou e apagou da memória histórica das mulheres e dos homens outras datas reais de greves e congressos socialistas que determinaram o Dia das Mulheres, sua data de comemoração e seu caráter político.

Já em 1970, o mito das mulheres queimadas vivas estava firmado. Rapidamente foi feita a síntese de uma greve que nunca existiu, a de 1857, com as outras duas, de costureiras, que ocorreram em 1910 e 1911, em Nova Iorque.

Nesse ano de 1970, com centenas de milhares de mulheres americanas participando de enormes manifestações contra a guerra do Vietnã e com um forte movimento feminista, em Baltimore, EUA, é publicado o boletim Mulheres-Jornal da Libertação. Neste já se reafirmava e se consolidava a versão do mito de 1857.

Mas, na França, essa confusão não foi aceita tranqüilamente por todas e todos. O jornal nº 0, de 8 de março de 1977, História d´Elas, publicado em Paris, alerta para esta mistura de datas e diz que, em longas pesquisas, nada se encontrou sobre a famosa greve de Nova Iorque, em 1857. Mas o alerta não teve eco.

Dolores Farias, no seu artigo no Brasil de Fato, nº 2, nos lembra que, em 1975, a ONU declarou a década de 75 a 85 como a década da mulher e reconheceu o 8 de março como o seu dia. Logo após, em 1977, a Unesco reconhece oficialmente este dia como o Dia da Mulher, em homenagem às 129 operárias queimadas vivas.

No ano de 1978, o prefeito de Nova Iorque, na resolução nº 14, de 24/1, reafirma o 8 de março como Dia Internacional da Mulher, a ser comemorado oficialmente na cidade de Nova Iorque.

Na resolução, cita expressamente a greve das operárias de 1857, por aumento de salário e por 12 horas de trabalho diário, e mistura esta greve fictícia com uma greve real que começou em 20 de novembro de 1909. O mito estava fixado, firmado e consolidado. Agora era só repeti-lo.


Por que a cor lilás?

A partir de 1980, o mundo todo contará esta história acreditando ser verdadeira. Aparecerá até um pano de cor lilás, que as mulheres estariam tecendo antes da greve. Daquela greve que não existiu. A mitologia nasce assim. Cada contador acrescenta um pouquinho. “Quem conta um conto aumenta um ponto”, diz nosso ditado.

Por que não vermelho? Porque vermelhas eram as bandeiras das mulheres da Internacional. Vermelhas eram as bandeiras de Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo e Alexandra Kollontai, delegadas dos seus partidos, à 1ª Conferência das Mulheres Socialistas, em 1907; e da 2ª, na Dinamarca, em 1910. Nesta última foi decidido que as delegadas, nos seus países, deveriam comemorar o Dia da Mulher Socialista.

A cor lilás na luta das mulheres tem uma origem engraçada. A feminista Sylvia Pankrust nos conta que esta foi adotada pelas sufragistas inglesas, em 1908, junto com outras duas cores, como símbolo de sua luta. Estas lutadoras pelo direito de voto escolheram o lilás, o verde e o branco. O lilás se inspirava na cor da nobreza inglesa, o branco simbolizava a pureza da luta feminina e o verde a esperança da vitória.

Historicamente, vamos reencontrar a cor lilás na retomada do feminismo, nos anos 60. O vermelho estava muito ligado aos Partidos Comunistas do Bloco Soviético que, na verdade, já tinham muito pouco de socialismo, ou de comunismo. Além disso, historicamente, vários destes partidos pouco apoio haviam dado às lutas específicas das mulheres.

A expressão "Libertação da Mulher" não era própria destes partidos. Neles, a luta da mulher era vista quase só com o objetivo de integrá-la à luta de classe. A luta feminista, para muitos comunistas, só atrapalhava a luta geral do proletariado. Tirava forças da luta principal.

Foi nesse clima que, nas décadas de 60 e 70 do século passado, a luta feminista foi retomada, num processo de auto-organização das mulheres. No movimento feminista havia uma forte crítica à prática da maioria dos partidos e sindicatos. Muitos movimentos se organizaram de forma autônoma, lutando para garantir sua independência.

Assim, várias feministas adotadaram a cor lilás, como uma nova síntese entre as cores azul e rosa. O vermelho das bandeiras das mulheres da Internacional foi esquecido. Na década de 70, as mulheres socialistas reafirmavam a origem socialista do 8 de Março, ao mesmo tempo em que várias delas assumiam a cor lilás como cor específica da luta feminista.


A libertação da mulher tem origem na luta socialista

A idéia da libertação da mulher nasceu na terra fértil do movimento socialista mundial, no final do século XIX e começo do século XX.

As raízes desta batalha podem ser encontradas nos escritos de Marx e Engels. A visão da família, da mulher proletária e da burguesa que permeiam A Origem da Família, da Propriedade e do Estado, de Engels, é a base da visão dos socialistas sobre a necessidade da libertação da mulher proletária. A frase de Marx, “A opressão do homem pelo homem iniciou-se com a opressão da mulher pelo homem”, demorou para dar seus frutos, mas deu.

Contemporâneos de Marx, Paul Lafargue e Laura Marx foram batalhadores da igualdade e da libertação feminina, em seus vários escritos, sobretudo em seu livro mais conhecido, Direito à Preguiça.

Clara Zetkin, desde 1890, logo após a fundação da Internacional Socialista, começou a falar, escrever e organizar a luta das mulheres visando a integrá-las à luta socialista. Visando a que elas tomassem seu lugar na luta de classes, na revolução socialista que estava próxima.

Fora da 2ª Internacional, a tradição anarquista de uma parte do movimento operário também exigia a igualdade de homens e mulheres. A realidade, naquele começo do movimento da classe trabalhadora ainda era dura: partido e sindicato eram coisas de homem. Mas, mesmo nesse ambiente desfavorável, grandes mulheres passaram a discutir com as maiores lideranças da época e deixaram suas marcas em livros e artigos e na organização das forças revolucionárias.

Foi neste embate de idéias que um dos teóricos da Internacional, August Bebel, em 1885, escreveu seu livro A Mulher e o Socialismo. E é nesse grande rio que deságua o célebre A Nova Mulher e a Moral Sexual, de Alexandra Kollontai, mais de 20 anos depois.

Nesse ambiente de lutas operárias e de discussões teóricas, no campo socialista, é que nasceu a luta pela participação política e, pouco a pouco, pela libertação da mulher.

A partir do começo do século XX, essa batalha das socialistas se cruzou com a do movimento das mulheres independentes, em sua maioria pertencentes às classes média e alta, que estavam em campanha pelo direito de voto. Essas mulheres, nos Estados Unidos e na Inglaterra, ao reivindicar o sufrágio para as mulheres, ficaram conhecidas como as sufragistas e suas relações com as socialistas eram de conflito, devido às visões e a posição de classe diferentes.


As mulheres socialistas criam o Dia da Mulher

Desde 1901, nos EUA, logo após a criação do Partido Socialista, surge a União Socialista das Mulheres, com a finalidade de reivindicar o direito de voto feminino. Entre os anos 1900 e 1908, sempre nos Estados Unidos, nascem vários clubes de mulheres, uns intimamente ligados ao Partido Socialista, outros mais autônomos, anarquistas ou não. Todos exigiam o direito de voto para as mulheres.

Em 1908, a Federação dos Clubes de Mulheres Socialistas de Chicago toma a iniciativa, autônoma, não ligada oficialmente ao Partido Socialista, de chamar para um Dia da Mulher, num teatro da cidade. Era o domingo, 3 de maio. Os debates do dia tinham dois temas de pauta: 1. A educação da classe trabalhadora. 2. A mulher e o Partido Socialista.

Nessa conferência, o palestrante Ben Hanford repetiu uma das idéias-chaves de Engels no seu A Origem da Família da Propriedade e do Estado. Nas palavras do orador, de acordo com Engels, “as mais exploradas são as mães do nosso povo. Elas estão de mãos e pés amarrados pela dependência econômica. São forçadas a vender-se no mercado do casamento, como suas irmãs prostitutas no mercado público.”

Mas não foi esse encontro independente, no teatro The Garrick, de Chicago, que foi reconhecido pelo Partido Socialista como começo da comemoração do Dia da Mulher. A iniciativa desse dia tinha nascido fora da estrutura oficial do Partido.

O primeiro dia da Mulher, nacional, assumido pelo Partido, foi no ano seguinte, em Nova Iorque, em 28 de fevereiro de 1909. Em outras cidades do País, como Chicago, o dia foi celebrado em outras datas.

O objetivo desse dia, convocado pelo Comitê Nacional da Mulher do Partido Socialista americano, “era obter o direito de voto e abolir a escravidão sexual.” O panfleto de convocação dizia: “A realização da revolução das mulheres é um dos meios mais eficazes para a revolução de toda a sociedade.”

Desde o começo do século, nos EUA havia um importante movimento pelo voto feminino, fora da órbita dos socialistas. A maioria das mulheres do Partido consideravam esse movimento como um movimento de mulheres brancas e de classe média.

Dentro do Partido Socialista havia um constante vai-e-vem sobre esse tema. Por seu lado, as mulheres anarquistas não viam nenhum sentido na luta pelo voto, nem das mulheres e nem dos homens. O meio para construir uma nova sociedade, e a igualdade entre homens e mulheres, na visão anarquista, não seria certamente o voto, e sim a ação direta revolucionária. A principal porta-voz desta visão era a revolucionária anarquista Emma Goldman.

O ambiente americano favorecia esta reivindicação do direito de voto. Até o ano de 1909, somente em quatro estados era reconhecido o direito ao voto feminino. A extensão do voto para toda mulher americana só viria em 1920.

Na Europa, o movimento das mulheres socialistas, liderado por Clara Zetkin, também era cheio de zige-zagues.

No começo, dentro da Internacional, se levava uma guerra sistemática contra a luta pelo direito de voto feminino, visto como uma forma de desviar as forças revolucionárias das mulheres e considerado como uma reivindicação burguesa. Era assim que eram tachadas as sufragistas, seja da Europa que da América, pelos socialistas.

Essa visão européia será adotada pelo Partido Socialista americano, em meio a grandes debates e com vozes discordantes. No meio do calor e das contradições desse debate, na 1ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, em 1907, em Stuttgart, 58 delegadas de 14 países elaboraram uma proposição que comprometia os vários Partidos Socialistas a entrar na luta pelo voto feminino. A resolução foi elaborada, na véspera, na casa de Clara Zetkin, por ela e duas camaradas, suas hóspedes: Rosa Luxemburgo e a única russa da Conferência, Alexandra Kollontai.

É nesse clima de embates que, em 1910, o Partido Socialista americano organiza, pela segunda vez, o Dia da Mulher no último domingo de fevereiro, em Nova Iorque. O objetivo do dia é declarado sem rodeios no convite: “Arrolar as mulheres no exército dos camaradas da revolução social.”

Esta comemoração, de 1910 foi marcada por uma grande participação de operárias. Eram as costureiras da cidade que haviam terminado uma longa greve pelo direito de ter o seu sindicato reconhecido. A greve durou de 22 de novembro de 1909 até 15 de fevereiro de 1910, quase na véspera do Dia da Mulher. Foi uma greve longa, dura, com fortes piquetes reprimidos com violência pela polícia, que prendeu mais de 600 pessoas. Encerrada a greve, as costureiras participaram ativamente da preparação e da realização do Dia da Mulher chamado pelo Partido Socialista.

Dois meses depois, em maio, no congresso do partido, realizado em Chicago, foi deliberado que o partido americano enviaria delegados ao Congresso da Internacional, a ser realizado em agosto, com a tarefa, entre outras, de propor ao plenário que o Dia da Mulher fosse assumido pela Internacional. Esse dia deveria tornar-se o Dia Internacional da Mulher, a ser celebrado pelos socialistas, no último domingo de fevereiro de cada ano.

Em agosto desse ano, antes do Congresso da Internacional, se realizou em Copenhague, na Dinamarca, a 2ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas. Foi então que as delegadas americanas levaram a proposta aprovada no Congresso do seu partido. Assim, aceitando a proposta das delegadas dos Estados Unidos, Clara Zetkin e outras camaradas propõem a realização anual do Dia Internacional da Mulher.

O dia ficou indefinido. Ficou a cargo de cada país escolher a data melhor para comemorar este dia. A resolução aprovada será publicada logo em seguida, no jornal dirigido por Clara, A Igualdade, em 29 de agosto.

“As mulheres socialistas de todas as nações organizarão um Dia das Mulheres específico, cujo primeiro objetivo será promover o direito de voto das mulheres. É preciso discutir esta proposta, ligando-a à questão mais ampla das mulheres, numa perspectiva socialista.” A outra proposta, de comemorar o Dia da Mulher junto com a data já clássica da luta operária, o 1º de Maio, defendida por Clara e várias outras delegadas, foi derrotada. O dia da Mulher deveria ser comemorado num dia próprio, específico.


O Dia da Mulher se fixa em 8 de Março

Na Europa, a primeira celebração do Dia Socialista das Mulheres aconteceu em 19 de março de 1911, por decisão da Secretaria da Mulher Socialista, órgão da Internacional. Alexandra Kollontai, que propôs a data, diz que foi para lembrar um levante de mulheres proletárias, na Prússia, em 19 de março de 1848. Nesse dia, escreveu Kollontai, as mulheres conseguiram do rei da Prússia a promessa, depois não cumprida, de obter direito de voto.

Nos EUA, a tradição de realizar o Dia da Mulher no último domingo de fevereiro se repetiu em 1911, 1912 e 1913. Em 1914, será comemorado em 19 de março, seguindo a indicação da Kollontai.

Nos vários países da Europa, após a decisão da 2ª Conferência, onde havia um partido socialista, se começou a comemorar o Dia da Mulher.

Na Suécia, a primeira comemoração foi em 1º de março de 1911. O mesmo aconteceu na Itália.

Na França, o começo do Dia da Mulher foi em 1914, comemorado dia 9 de março, próximo ao Dia da Mulher na Alemanha.

Em 1914, pela primeira vez, na Alemanha, Clara Zetkin e as mulheres socialistas marcam data do Dia da Mulher para 8 de março. Não se explicou o porquê dessa data, pois não precisava. Era um detalhe sem interesse. A data era totalmente indiferente. Tinha que ser qualquer dia. Importante era a realização do dia.

Na Rússia, sob da opressão do czar, o primeiro Dia da Mulher só foi comemorado em 3 de março de 1913.

Em 1914 todas as organizadoras do Dia da Mulher foram presas e com isso não houve comemoração.

Em plena Guerra Mundial, em 1917, na Rússia, as mulheres socialistas realizaram seu Dia da Mulher no dia 23 de fevereiro, pelo calendário russo. No calendário ocidental, a data correspondia ao dia 8 de Março. Era o mesmo dia que, na Alemanha, tinha sido escolhido em 1914. Foi nesse dia que explodiu a greve espontânea das tecelãs e costureiras de Petrogrado.

Nesse dia, um grande número de mulheres operárias, na maioria tecelãs e costureiras, contrariando a decisão do Partido, que achava que aquele não era o momento para qualquer greve, saíram às ruas em manifestação por pão e paz. Declararam-se em greve. Essa manifestação foi o estopim do começo da primeira fase da Revolução Russa, conhecida depois como a Revolução de Fevereiro.

Em outubro o Partido Bolchevique lidera a grande Revolução Russa, nos “dez dias que abalaram o mundo”.

Essa greve foi documentada nos escritos de Trotsky e de Alexandra Kollontai, ambos membros do Comitê Central do Partido Operário Socialdemocrata Russo e ambos, depois, proscritos pelo stalinismo vencedor. Kollontai escreve: "O dia das operárias, 8 de Março, foi uma data memorável na história. Nesse dia as mulheres russas levantaram a tocha da revolução."

Mas o texto que melhor nos conta os fatos da greve das operárias da Petrogrado é um longo trecho de Leon Trotsky, no primeiro volume de seu livro História da Revolução Russa. Vale a pena acompanhá-lo:

“O 23 de fevereiro era o Dia Nacional das Mulheres. Programava-se, nos círculos da socialdemocracia, de mostrar o seu significado com os meios tradicionais: reuniões, discursos, boletins. Na véspera, ninguém teria imaginado que este Dia das Mulheres pudesse ter inaugurado a revolução.

Nenhuma organização planejava alguma greve para aquele dia. Ainda por cima, uma das combativas organizações bolcheviques, o Comitê dos Tecelões de Rayon, formado essencialmente por operários, desaconselhava qualquer greve. O estado de espírito da massa, segundo Kaiurov, um dos chefes operários deste setor, era muito tenso e cada greve ameaçava tornar-se um confronto aberto.

O Comitê julgava que o momento de começar hostilidades ainda não tinha chegado e que o Partido ainda não tinha forças suficientes e, ao mesmo tempo, a união entre soldados e operários ainda era insuficiente. Por isso tinha decidido não chamar para greve, mas para se preparar para a ação revolucionária, num futuro ainda não definido.

Esta era a linha de conduta preconizada pelo Comitê, na véspera do dia 23, e parecia que todos a tivessem aceitado. Mas, na manhã seguinte, contra todas as orientações, as operárias têxteis abandonaram o trabalho em várias fábricas e enviaram delegadas aos metalúrgicos para pedir-lhes que apoiassem a greve.

Foi a contra-gosto, escreve Kaiurov, que os bolcheviques, seguidos pelos operários mencheviques e pelossocialistas de esquerda se juntaram à marcha.

Como se tratava de uma greve de massa, era necessário comprometer todo mundo para sair às ruas e estar à frente do movimento. Esta foi a resolução proposta por Kaiurov e o Comitê de Vyborov se sentiu forçado a aprová-la.

Pelos fatos, é então certo que a Revolução de Fevereiro foi iniciada por elementos da base que passaram por cima da oposição das suas organizações revolucionárias, e que a iniciativa foi tomada espontaneamente por um contingente do proletariado explorado e oprimido mais que todos os outros, as operárias têxteis. (...) O empurrão final veio das enormes filas de espera em frente às padarias.”

Em 1921, realizou-se, em Moscou, na URSS, a Conferência das Mulheres Comunistas que adota o dia 8 de Março como data unificada do Dia Internacional das Operárias. A partir dessa Conferência, a 3ª Internacional, recém-criada, espalhará a data 8 de Março como data das comemorações da luta das mulheres.


Um dia esquecido e depois reinventado

Na Rússia comunista, após a vitória da Revolução de Outubro, nos primeiros anos do novo regime, o dia 8 de Março era comemorado todo ano, como o Dia Internacional da Mulher Comunista.

O dia, pouco a pouco, perdeu seu interesse e o adjetivo comunista foi caindo à medida que o ímpeto revolucionário da União Soviética começou a se arrefecer.

Nos últimos anos da década de 20 e, sobretudo, nos anos 30, o Dia Internacional da Mulher, seja comunista ou socialista, se perderá na tormenta que se abateu sobre o mundo. A ascensão do nazismo na Alemanha, o triunfo do stalinismo na URSS e o declínio da socialdemocracia na Europa e o vendaval da 2ª Guerra Mundial enterram as manifestações do Dia das Mulheres.

Fora dos países comunistas, no Ocidente, a humanidade só voltará a falar do Dia da Mulher, no final dos anos 60. Nesse lapso de tempo, o marco do 8 de Março, data da greve das operárias de Petrogrado, de 1917, foi esquecido.

A data da vitória das revolucionárias rebeldes russas, que impôs a derrota do absolutismo do Czar e deslanchou a Revolução Russa, não interessava aos comunistas do mundo todo. Estes, quase todos, viviam anestesiados pelos encantos ou pelo terror stalinista.

Retornar a lembrança daquele 8 de Março das operárias revolucionárias de Petrogrado também não interessava à Socialdemocracia, rejuvenescida após a destruição da Segunda Guerra Mundial e em conflito aberto com o comunismo dos países do bloco soviético.


8 de Março: uma data a celebrar

Menos que menos, a data do 8 de Março de 1917, na nascente URSS, interessava o bloco capitalista ocidental, inimigo mortal da Rússia comunista. É neste clima, propício ao esquecimento da verdadeira história do Dia da Mulher, já na década de 1950, nas publicações do Partido Comunista, na França, se começou a falar de uma forte luta das operárias americanas, em 8 de março de 1857. Talvez, a famosíssima greve do 1º de Maio, na Chicago de 1886 e as numerosas greves nas tecelagens americanas estimularam as fantasias e levaram a enfatizar a participação dos Estados Unidos na luta da mulher, o que favoreceu esta confusão de datas. Pouco a pouco se deslocou a data para 1857, em Nova Iorque. E aí, em ondas sucessivas de contadores, se chegou a historinha completa.

No dia 1º de Março de 1964, o jornal da CGT francesa, Antoinette, fala que “foram as americanas que começaram. Era 8 de março de 1857. Para exigir as 10 horas elas ocuparam as ruas de Nova Iorque”. É a continuação do que já tinha aparecido no jornal do PCF, nos anos anteriores.

E finalmente, foi assim, sem precisar de uma conspiração organizada por um suposto império do mal, que na Alemanha Oriental, em 1966, a Federação das Mulheres Comunistas noticiou a história do Dia da Mulher, enriquecida com o martírio das 129 queimadas vivas.

Tudo isto foi feito de forma confusa, misturando fatos com fantasias, com cada contador, escrevendo e inventando datas e detalhes.

E foi assim, sem nenhuma deliberação conspiratória, que o mito que acabava de ser criado, em 1966, no Leste Europeu, começou a ser divulgado e foi depois enriquecido fartamente, nos EUA do final dos anos 60 e em todo o mundo ocidental.

Depois disso, era só enriquecer o mito. O que foi feito, até sua cristalização em 1975, com a ONU e logo depois com a Unesco, em 1977.


Uma data muito rica que não precisa de mitos

Derrubar o mito de origem da data 8 de Março não implica desvalorizar o significado histórico que este adquiriu.

Muito ao contrário. Significa retomar a verdade dos fatos que são suficientemente ricos de significado e que carregam toda a luta da mulher no caminho da sua libertação. Significa enriquecer a comemoração desse dia com a retomada de seu sentido original.

Significa voltar às origens do ideal socialista da maioria das mulheres que lutavam por um mundo novo sem exploração e opressão do homem pelo homem e especificamente da mulher pelo homem.

Um dia que quer retomar a comemoração e a luta de um 8 de Março sem medos. Avançar sem medos e sem vergonha pelas derrotas sofridas pelas revoluções perdidas no século XX, rumo à conquista da libertação total das mulheres.

Significa integrar todos os novos e importantíssimos aspectos da luta da libertação da mulher, descobertos com a evolução histórica da humanidade no século XX, com a retomada de suas raízes socialistas.

Integrar à clássica luta libertária, socialista e comunista do começo do século XX, as contribuições de diferentes linhas de pensamento e países, que vão de Wilhem Reich a Simone de Beauvoir, de Herbert Marcuse a Samora Machel, de Betty Friedann a Rose Marie Muraro. Integrar toda a luta do feminismo para construir uma sociedade onde a mulher seja reconhecida como gente.

Integrar estas elaborações teóricas com as lutas e as experiências de vida de milhares de ativistas, militantes e organizadoras da luta das mulheres, no mundo inteiro: das guerrilheiras latino-americanas, às mulheres vietnamitas, das trabalhadoras das fábricas às plantadoras de arroz da Índia, das Mães dos desaparecidos argentinos às lutadoras pela reforma agrária do MST.

Uma longa luta sem medo da felicidade, sem medo do prazer. Sem medo de lutar por uma revolução, que deverá ser social, sexual, e profundamente cultural. Sem medo de levantar as bandeiras vermelhas da luta pela libertação da humanidade. A libertação de homens e mulheres.


Anexo - Datas básicas sobre a origem do 8 de Março

1900-1907

— Movimento das Sufragistas pelo voto feminino nos EUA e Inglaterra.

1907

— Em Stuttgart, é realizada a 1ª Conferência da Internacional Socialista com a presença de Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo e Alexandra Kollontai. Uma das principais resoluções: "Todos os partidos socialistas do mundo devem lutar pelo sufrágio feminino."

1908

— Em Chicago (EUA), no dia 3 de maio, é celebrado, pela primeira vez, o Woman´s Day. A convocação é feita pela Federação Autônoma de Mulheres.

1909

— Novamente em Chicago, mas com nova data, último domingo de fevereiro, é realizado o Woman's Day. O Partido Socialista Americano toma a frente.

1910

— A terceira edição do Woman's Day é realizada em Chicago e Nova Iorque, chamada pelo Partido Socialista, no último domingo de fevereiro.

— Em Nova Iorque, é grande a participação de operárias devido a uma greve que paralisava as fábricas de tecido da cidade. Dos trinta mil grevistas, 80% eram mulheres. Essa greve durou três meses e acabou no dia 15/02, véspera do Woman's Day.

— Em maio, o Congresso do Partido Socialista Americano delibera que as delegadas ao Congresso da Internacional, que seria realizado em Copenhague, na Dinamarca, em agosto, defendam que a Internacional assuma o Dia Internacional da Mulher.

"Este deve ser comemorado no mundo inteiro, no último domingo de fevereiro, a exemplo do que já acontecia nos EUA".

— Em agosto, a 2ª Conferência Internacional da Mulher Socialista, realizada dois dias antes do Congresso, delibera que: "As mulheres socialistas de todas as nacionalidades organizarão (...) um dia das mulheres específico, cujo principal objetivo será a promoção do direito a voto para as mulheres". Não é definida uma data específica.

1911

— Durante uma nova greve de tecelãs e tecelões, em Nova Iorque, morrem 134 grevistas, a causa de um incêndio devido a péssimas condições de segurança.

— Na Alemanha, Clara Zetkin lidera as comemorações do Dia da Mulher, em 19 de março. (Alexandra Kollontai diz que foi para comemorar um levante, na Prússia, em 1848, quando o rei prometeu às mulheres o direito de voto).

— Nos Estados Unidos, o Dia da Mulher é comemorado em 26/02 e na Suécia, em 1º de Maio.

1912

— Nos Estados Unidos, o Dia da Mulher é comemorado em 25/02.

1912 e 1913

— Na Alemanha, o Dia da Mulher é comemorado em 19/3.

1913

— Na Rússia é comemorado, pela primeira vez, o Dia da Mulher, em 3/3.

1914

— Pela primeira vez, a Secretaria Internacional da Mulher Socialista, dirigida por Clara Zetkin, indica uma data única para a comemoração do Dia da Mulher: 8 de Março. Não há explicação sobre o porquê da data.

— A orientação foi seguida na Alemanha, Suécia e Dinamarca.

— Nos Estados Unidos, o Dia da Mulher foi comemorado em 19/03

1917

— No dia 8 de Março de 1917 (27 de fevereiro no calendário russo) estoura uma greve das tecelãs de São Petersburgo. Esta greve gera uma grande manifestação e dá início à Revolução Russa.

1918

— Alexandra Kollontai lidera, em 8/3, as comemorações pelo Dia Internacional da Mulher, em Moscou, e consagra o 8/3 em lembrança à greve do ano anterior, em São Petersburgo.

1921

— A Conferência das Mulheres Comunistas aprova, na 3ª Internacional, a comemoração do Dia Internacional Comunista das Mulheres e decreta que, a partir de 1922, será celebrado oficialmente em 8 de Março.

1955

— Dia 5/3, L´Humanité, jornal do PCF, fala pela primeira vez da greve de 1857, em Nova Iorque. Não fala da morte das 129 queimadas vivas.

1966

— A Federação das Mulheres Comunistas da Alemanha Oriental retoma o Dia Internacional das Mulheres e, pela primeira vez, conta a versão das 129 mulheres queimadas vivas.

1969

— Nos Estados Unidos, o movimento feminista ganha força. Em Berkley, é retomada a comemoração do Dia Internacional da Mulher.

1970

— O jornal feminista Jornal da Libertação, em Baltimore, nos EUA consolida a versão do mito de 1857.

1975

— A ONU decreta, 75-85, a Década da Mulher.

1977

— A Unesco encampa a data 8/3 como Dia da Mulher e repete a versão das 129 mulheres queimadas vivas.

1978

— O prefeito de Nova Iorque decreta dia de festa, no município, o dia 8 de Março, em homenagem às 129 mulheres queimadas vivas.