terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

FAREWELL E OS SOLUÇOS

FAREWELL

1

Do fundo de ti, e ajoelhada,
uma criança triste, como eu, nos olha.

Por essa vida que arderá nas suas veias
teriam que se amarrar as nossas vidas.

Por essas mãos, filhas das tuas mãos,
teriam que matar as nossas mãos.

Pelos seus olhos abertos na terra
verei nos teus lágrimas um dia.

2

Eu não o quero, Amada.

Para que nada nos amarre,
que não nos una nada.

Nem a palavra que aromou a tua boca,
nem o que não disseram as palavras.

Nem a festa de amor que não tivemos,
nem os teus soluços junto à janela.

3

(Amo o amor dos marinheiros
que beijam e vão-se embora.

Deixam uma promessa.
Não voltam nunca mais.

Em cada porto uma mulher espera:
os marinheiros beijam e vão-se embora.

Uma noite se deitam com a morte
no leito do mar.)

4

Amo o amor que se reparte
em beijos, leite e pão.

Amor que pode ser eterno
e pode ser fulgaz.

Amor que quer se libertar
para tornar a amar.

Amor divinizado que se aproxima.
Amor divinizado que vai embora.

5

Já não se encantarão os meus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhares levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, fostes minha. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

... Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.

Autoria: Pablo Neruda - Poeta chileno - Nobel de Literatura em 1971

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