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domingo, 10 de outubro de 2021

Destino




Por Lúcia Nascimento da etnia Pankararu. Idealizadora e coordenadora do projeto Aventureiros da Leitura, na Escola Manoel Nascimento Neto em Paulo Afonso, Bahia.

Tínhamos simplesmente uma vida normal
Sempre sorrindo e fazendo planos 
Não discutíamos por coisa banal
Era bem melhor falar de nossos sonhos.

O nosso cotidiano era sempre de alegria 
E com nossos filhos nos rodeando era bem melhor
Até nos momentos de dureza, piadas você fazia
E as gargalhadas explodiam ao nosso redor.

Não quero lembrar de você com tristeza
Apesar da grande falta  de você que sinto 
Lembro que você sempre mostrava a vida com leveza
Por isso sua lembrança será levada ao infinito.

Você foi ótimo em tudo, foi um guerreiro 
Um esposo, pai, avô, tio, filho, genro, irmão e cunhado sempre presente
Para os amigos e quem de você precisava, sempre foi parceiro
Uma pessoa muito especial e decente.

Agora só nos resta a sua lembrança 
Pois, o destino nos tirou você levando parte da nossa alegria
Nos tirou nossa felicidade e parte de nossa esperança 
Pondo um ponto final em nossa parceria.

Hoje seria mais um ano de casamento comemorado
Mas com lágrimas nos olhos lembro nossa felicidade
Que sempre foi meu cúmplice e namorado
E com essas lembranças  irei seguir sempre com saudade!

Publicado em: Coletânea 50 Vozes Poéticas do Brasil Vol. 3/Rogério Fernandes Lemes. - 1. ed. - Dourados: Biblio Editora, 2021.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Estrela Guia


Por Lúcia Nascimento

Era maravilhoso viver contigo
Sempre vivemos bons momentos
No aconchego do seu abraço amigo
Vivi recebendo seu acalento.

Eu seguia sempre seus passos
Pois sempre me fazia sentir segura
A cada momento aumentava nossos laços
E éramos envolvidos por mais ternura.

Viver com você era como um sonho
Pois todo dia tinha uma nova história
História que não deixava ninguém tristonho
Era simplesmente linda nossa trajetória.

O que vivemos foi intenso e muito especial
Vivemos muitos momentos de plena alegria
Tivemos um intenso amor sem igual
Agora seguirei sempre lembrando de ti minha estrela guia.


quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Eleições: da cabrestania para a cidadania

Professor Miguel Almir

Política é ação do bem geral
afirmação de direitos coletivos
feita de cidadãos participativos
onde a equidade é fundamental.

Estão chegando as eleições  
é preciso aprumar bem o tino
pra não cair nos falsos destinos 
das armadilhas dos alçapões.   

Diante de tantos banditismos
de maculação da democracia
não mutilemos nossa cidadania
nem nos atemos no servilismo.

Uma vez disse um camponês 
com sua boa sabedoria e visão
eles dão o céu antes das eleição 
e depois vem o inferno de vez.

Antes é tudo bem colorido
muito ornamento, abracinho 
e os diabos viram santinhos  
depois tudo isso é varrido.
Muitos dos que são candidatos 
são os inimigos da democracia
formam quadrilhas de ladroaria
de indecências e de estelionato.

Pandemia de mentira assustadora
a falta de vergonha é arrepiante
deslavadas fakes news flagrantes
onda de malcaratismo aviltadora.   

São muitos lobos bem vorazes 
com pele de ovelhas vestidos
jogando iscas aos desvalidos
para por suas coleiras sagazes.
 
A coisa pública não é privada
a democracia estão degenerando 
e o bem comum emporcalhando
a privataria é muito deslavada.

É repugnante tanta podridão
pra todo lado tem excremento 
o estômago grita: não aguento
essa tamanha abjeta putrefação.   
 
Todo eleitor precisa ser leitor
para saber pensar e pegar visão
ter uma postura altiva de cidadão
suspeitar questionar com destemor.

Chovem trovoadas de populismo 
com suas artimanhas capciosas
de forma tão cínica e acintosa
na enganação do demagogismo.

O voto não é uma mercadoria
não tem preço nossa civilidade
gente não é rebanho e nulidade  
urge romper cabresto, montaria.

Muitos candidatos espertalhões
para bem ludibriar a população
usam o nome de Deus em vão
fabricando as pseudoreligiões.

São muitos vendilhões do templo
que estão abusando da religião
mercantilizando a fé no balcão
estelionatários: muitos exemplos.

Apelam para o emocionalismo
para ofuscar a visão dos fiéis
não verem as máscaras cruéis 
ficando vítimas do imbecilismo.

Antes de votar vamos pesquisar
a trajetória de cada candidato
para não elegermos os ratos
que só vão corroer e depredar.  

Candidato sério e dignificado
é aquele que já tem participação
nas lutas comuns dos cidadãos
de serviços ao bem coletivizado.

Urge as necropolíticas combater
instalando as políticas da vida 
em que a cidadania é a guarida
pros direitos humanos prevalecer. 

Só com nosso coletivo destinar
com consciência de civilidade
espírito de luta pela dignidade
iremos a democracia instalar.

domingo, 15 de abril de 2012

Dá-nos, Senhor aquela Paz

Em espírito pascal, dizemos com Pedro Casaldáliga, Dá-nos, Senhor aquela Paz.

Confira seu poema/oração:

Dá-nos, Senhor aquela Paz
inquieta que denuncia
a Paz dos cemitérios e a Paz dos lucros fartos.
Dá-nos a Paz que luta pela Paz!
A Paz que nos sacode com a urgência do Reino.
A Paz que nos invade, com o vento do Espírito,
a rotina e o medo, o sossego das praias e a oração
de refúgio.
A Paz das armas rotas na derrota das armas.
A Paz da fome de Justiça,
a paz da Liberdade conquistada,
a Paz que se faz "nossa" sem cercas nem fronteiras,
Que tanto é "Shalom" como "Salam", perdão, retorno, abraço...
Dá-nos a tua Paz, essa Paz marginal que soletra
Em Belém e agoniza na Cruz e triunfa na Páscoa.
Dá-nos, Senhor, aquela Paz inquieta,
que não nos deixa em paz!



terça-feira, 27 de setembro de 2011

Liberdade

Paul Éluard - O Poeta da Liberdade

Nos meus cadernos de escola
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome

Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome

Nas imagens redouradas
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome

Nas jungles e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
No céu da minha infância
Escrevo teu nome

Nas maravilhas das noites
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome

Nos meus farrapos de azul
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome

Nas campinas do horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome

Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome

Até na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome

Nas formas resplandecentes
Nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome

Nas veredas acordadas
E nos caminhos abertos
Nas praças que regurgitam
Escrevo teu nome

Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome

No fruto partido em dois
de meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome

Em meu cão guloso e meigo
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome

No trampolim desta porta
Nos objetos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome

Em toda carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome

Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome

Em meus refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome

Na ausência sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome

Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome

E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar

Liberdade

Tradução: Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

FAREWELL E OS SOLUÇOS

FAREWELL

1

Do fundo de ti, e ajoelhada,
uma criança triste, como eu, nos olha.

Por essa vida que arderá nas suas veias
teriam que se amarrar as nossas vidas.

Por essas mãos, filhas das tuas mãos,
teriam que matar as nossas mãos.

Pelos seus olhos abertos na terra
verei nos teus lágrimas um dia.

2

Eu não o quero, Amada.

Para que nada nos amarre,
que não nos una nada.

Nem a palavra que aromou a tua boca,
nem o que não disseram as palavras.

Nem a festa de amor que não tivemos,
nem os teus soluços junto à janela.

3

(Amo o amor dos marinheiros
que beijam e vão-se embora.

Deixam uma promessa.
Não voltam nunca mais.

Em cada porto uma mulher espera:
os marinheiros beijam e vão-se embora.

Uma noite se deitam com a morte
no leito do mar.)

4

Amo o amor que se reparte
em beijos, leite e pão.

Amor que pode ser eterno
e pode ser fulgaz.

Amor que quer se libertar
para tornar a amar.

Amor divinizado que se aproxima.
Amor divinizado que vai embora.

5

Já não se encantarão os meus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhares levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, fostes minha. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

... Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.

Autoria: Pablo Neruda - Poeta chileno - Nobel de Literatura em 1971

sábado, 13 de novembro de 2010

Coisação

As coisas rodam
na rotação dos girassóis
coisas tortas tansversas.

Um feixe de coisas
flecha os ermos tortos
tudo se desinventa.

As coisas pulsm
no espinho de cada dor
e no arrepio de cada prazer.

As coisas tremulam
plasmam luzes e sombras
duetos de noite e dia.

As coisas respiram
aspiram o ainda não
conspiram rebeliões.

As coisas não
são apenas somente
escampam a nominação.

As coisas sim
ondeiam lugares tortos
veredas de seus desvãos.

As coisas grão
germinam sonhos estelares
em corações encantados.

As coisas são híbridas
sólidas se derramam líquidas
mutantes fluem gasosas.

Autoria: Miguel Almir

ATINGE TUAS DIMENSÕES INTERIORES

Serás muito pobre
enquanto não descobrires
que não é de olhos abertos
que mais podes ver.
Serás muito ingênuo
enquanto não aprenderes
que, de lábios fechados,
podes ter silêncios
mais ricos
que a multidão de palavras.
Serás muito inábil
enquanto não notares
que, de mãos postas,
podes agir muito mais
do que movimentando
as mãos que, sem querer,
podem ferir.

Autoria: D. Hélder Câmara

terça-feira, 6 de julho de 2010

TODO RISCO

A possibilidade de arriscar
é que nos faz homens.
Voo perfeito
no espaço que criamos.
Ninguém decide
sobre os passos que evitamos.
Certeza de que não somos pássaros
e que voamos.

Tristeza de que não vamos
por medo dos caminhos

Autoria: Damário Dacruz - poeta baiano - falecido em 21 de maio de 2010

quarta-feira, 23 de junho de 2010

MEUS OLHOS

         Quisera que meus olhos fossem duros e frios
e que ferissem fundo dentro do coração
e que nada experimentassem dos meus sonhos vázios,
         fossem esperança ou ilusão.

         Indecifráveis sempre a todos os profanos
do fundo e suave azul da tranquila safira,
         ou a alegria do viver.

         No entanto estes meus olhos são cândidos e tristes,
não como eu os desejos nem como devem ser.
         É que estes olhos meus é o coração que o veste
                   e seu desgosto fá-los ver.

Autoria: Pablo Neruda

DA MINHA VIDA DE ESTUDANTE

I
Tomar o desjejum, sair correndo
repassando na mente a lição que se vai dar,
depois ouvir a prosa dos outros percebendo
umas secretas ânsias de chorar e chorar...

Ao ver que todos riem clara e sinceramente
(é algum chiste sem graça que a todos faz rir)
inclinar a cabeça, sentir-se ardentemente
uns malucos desejos de afastar-se e fugir...

Esforçar-se na classe por escutar atento
fazendo com que fujam todos os pensamentos
que fastidiosamente sentimos esvoaçar...

E sentir que se passam os dias e os dias
com o prometimento tarde sentiremos chegar

II
Adorar a cabeça desconhecida de uma
mulher que em nossa vida não poderemos ver,
pressentir toda alvura de umas mãos de lua
e a límpida legenda de uma voz de mulher...

Carregam dentro da alma doces pressentimentos
(que traiçoeiramente os sentimos ferver)
baixar o olhar e estrelar o contentamento
com a retina imensa de precisar viver.

Um apaziguamento. Uma breve energia.
Depois a raiva imensa daquela rebeldia
que nos outros sabemos dominar e vencer.

Mas o pressentimento! A infinita amargura
de sonhar os prazeres de suprema doçura
que nunca em nossa vida conseguiremos Ter!

Autoria: Pablo Neruda

sábado, 20 de fevereiro de 2010

TRÊS DOSES DE AMOR POR DIA

No coração de quem ama
Se guarda todos os medos
A base de sete chaves
Num cofre com mil segredos
Que se escancara no toque
Das digitais de seus dedos

Debaixo de arvoredos
Encima do alto cume
Não há iluminação
Sem ser a do vaga-lume
Mas se acendem luminárias
Ao sentir o teu perfume

As rosas sentem ciúme
E os botânicos da ciência
A natura e Boticário
Já perderam a paciência
Pois tentam e não conseguem
Imitar a tua essência

Não chamo vossa excelência
Por não ser parlamentar
E nem vossa majestade
Sendo rainha do lar
Pois chamo apenas de musa
A musa do meu olhar

Em um peito a palpitar
Bate um coração afoito
De saudade a pressão sobe
E muitas vezes pernoito
Mas ao chegar-te controlas
E mede doze por oito

Ao medir dose por oito
A pressão se anestesia
Não preciso ir ao médico
Farmácia nem drogaria
Pois pra mim foi receitado
Três doses de amor por dia

Autoria: Bruno Vinicius

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

SAUDADE NÃO É PEIXEIRA MAS CORTA A ALMA DA GENTE

Por Bruno Vinícius

Sei que o começo do nome
Tempera o sentimento
O SAL do ressentimento
Que doi mas não mata a fome
É dor que chega e não some
Pois finca na nossa mente
Derruba qualquer valente
Deixa sem eira nem beira
Saudade não é peixeira
Mas corta a alma da gente

Quando ela finca no peito
Sem hora pra despedida
è chegada sem partida
No coração de um sujeito
Que solta o grito do eito
Com a força contundente
De estremeçer o batente
O teto e a cumiera
Saudade não é peixeira
Mas corta a alma da gente

Letra são apenas sete
Mas dores são bem setenta
Ou então cento e quarenta
Se erro não se comete
Pois não há quem interprete
Toda saudade que sente
Não sabe se é
corrigindo a 3ª estrofe
Letra são apenas sete

Mas dores são bem setenta
Ou então cento e quarenta
Se erro não se comete
Pois não há quem interprete
Toda saudade que sente
Não sabe se é fria ou quente
Mas sabe que é traiçoeira
Saudade não é peixeira
Mas corta a alma da gente

Não cura com melhoral
Dipirona ou Anador
Com casca ou lambedor
Cibalena e sonrisal
Voltarem ou Gardenal
Não tiram o que gente sente
Saudade não sai da mente
Com médico ou enfermeira
Saudade não é peixeira
Mas corta a alma da gente

Teimo em sentir saudade
Dos meus tempos de criança
Sempre guardo na lembrança
Meus traços da mocidade
Mesmo tendo pouca idade
esta dor é eminente
Sofredor este que sente
Esta dor que é matadeira
Saudade não é peixeira
Mas corta a alma da gente

Não há quem não tenha medo
Desta palavra saudade
Até parece maldade
Esta dor é um segredo
Vivo afogado no medo
Minha alma cala e mente
E germinou a semente
Pra doer pra vida inteira
Saudade não é peixeira
Mas corta a alma da gente

Minha dor foi atestada
Por médico do coração
Escutei com atenção
Sua receita medicada
Por mim mal interpretada
Eu sei que não estou doente
A saudade é deprimente
Qualquer doença é besteira
Saudade não é peixeira
Mas corta a alma da gente

Lembrar do meu amor
Me traz saudade profunda
E o meu pensamento inunda
Com as lágrimas do desamor
As vezes faço um clamor
Por quem nunca esta presente
Por estares sempre ausente
So penso em fazer besteira
Saudade não é peixeira
Mas corta a alma da gente.

domingo, 23 de agosto de 2009

QUEM MORRE?

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.

Autor: Pablo Neruda - Poeta chileno - Prêmio Nobel de Literatura (1971)

domingo, 19 de julho de 2009

A LIÇÃO DE PINTURA

Quadro nenhum está acabado,
desse certo pintor;
se pode sem fim continuá-lo,
primeiro, ao além de outro quadro
que, feito a partir de tal forma
tem na tela, oculta, uma porta
que dá a um corredor
que leva a outra e a muitas outras.

Autor: João Cabral de Melo Neto

DUPLICIDADE DO TEMPO

O níquel, o alumínio, o estanho
e outros assépticos elementos
ao fim se corrompem: o tempo
injeta em cada um seu veneno.

A merda, o lixo, o corpo podre,
os humores, vivos desetos,
não se corrompem mais: o tempo
seca-os ao fim, com mil cautérios.

Autor: João Cabral de Melo Neto

O ARTISTA INCONFESSÁVEL

Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
Mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificilmente
se poderá dizer
com mais desdém ou então dizer
mais direito ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.

Autor: João Cabral de Melo Neto

POR UM SABADO SERTANEJO

A gente acorda
A gente é a corda
A gente puxa a corda
Acorda gente
Acorda a gente
A corda tá pra ser puxada
Acorda pra puxar a corda
É hora de acordar
Acorda gente

Autor: Adriano Sobral