quarta-feira, 23 de junho de 2010

DA MINHA VIDA DE ESTUDANTE

I
Tomar o desjejum, sair correndo
repassando na mente a lição que se vai dar,
depois ouvir a prosa dos outros percebendo
umas secretas ânsias de chorar e chorar...

Ao ver que todos riem clara e sinceramente
(é algum chiste sem graça que a todos faz rir)
inclinar a cabeça, sentir-se ardentemente
uns malucos desejos de afastar-se e fugir...

Esforçar-se na classe por escutar atento
fazendo com que fujam todos os pensamentos
que fastidiosamente sentimos esvoaçar...

E sentir que se passam os dias e os dias
com o prometimento tarde sentiremos chegar

II
Adorar a cabeça desconhecida de uma
mulher que em nossa vida não poderemos ver,
pressentir toda alvura de umas mãos de lua
e a límpida legenda de uma voz de mulher...

Carregam dentro da alma doces pressentimentos
(que traiçoeiramente os sentimos ferver)
baixar o olhar e estrelar o contentamento
com a retina imensa de precisar viver.

Um apaziguamento. Uma breve energia.
Depois a raiva imensa daquela rebeldia
que nos outros sabemos dominar e vencer.

Mas o pressentimento! A infinita amargura
de sonhar os prazeres de suprema doçura
que nunca em nossa vida conseguiremos Ter!

Autoria: Pablo Neruda

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