Mostrando postagens com marcador Mundo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mundo. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 4 de julho de 2023

"Happiness": animação que questiona uma sociedade movida pelo consumo e guiada por um ideal de felicidade obsessiva.

Mário Moura - Educador e Poeta.

O curta de animação "Happiness" (2017) de Steve Cutts, conhecido ilustrador britânico e especialista em animação faz uma reflexão e critica contundente à busca implacável por "felicidade", movida pelo consumo que marca as sociedades capitalistas atuais.


A ideia de que a "felicidade" depende, em última instância, da posse e acumulação de bens materiais ou da incessante busca de “realização” – noções essas promovidas, à exaustão, pela manipulação das emoções através da publicidade e do marketing, causando um anestesiamento que esconde seus efeitos nocivos como a falta de reflexão e um alívio ilusório (nunca é saciada totalmente, pois encontrar a felicidade dos anúncios é impossível: são milhares de produtos, propostas, padrões estéticos e serviços que devem ser perseguidos. E quando um deles é alcançado, surge outro nível) – impôs-se como uma “ideologia” totalizante que transformou a “felicidade”, ela própria, numa mercadoria ou bem de consumo.

Podemos ser felizes apesar do consumismo exagerado, falta de liberdade e da supervalorização do dinheiro e do status social?





terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Taxar os Ricos: Um Conto de Fadas Animado


Taxar os ricos: Um conto de fadas animado, é narrado por Ed Asner, com animação de Mike Konopacki. Escrito e dirigido por Fred Glass para a Federação de Professores da Califórnia. Um vídeo de 8 minutos sobre como chegamos a este momento de serviços públicos mal financiados e ampliando a desigualdade econômica. As coisas vão para baixo numa terra feliz e próspera após os ricos decidirem que não querem pagar mais impostos. Dizem às pessoas que não há alternativa, mas as pessoas não têm assim tanta certeza. Esta terra tem uma semelhança surpreendente com a nossa terra. Para mais informações, www.cft.org.


sábado, 10 de março de 2012

Justiça Brasileira pede esclarecimentos ao Google e na Alemanha Facebook é punido


Publicado no Portal Vermelho:

No Brasil, Ministério da Justiça pede explicação a Google sobre mudanças na política de privacidade; na Alemanha, sistema de busca de amigos no Facebook é considerado ilegal.

Nesta quinta-feira (8), a filial brasileira do Google recebeu uma notificação do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça para informar detalhes sobre as mudanças na política de privacidade do site. A empresa tem dez dias para prestar esclarecimentos.

Segundo o DPDC, o pedido de esclarecimento foi feito com base na legislação de defesa do consumidor e no direito constitucional à privacidade. O Google deverá informar como se deu o processo de revisão da política de privacidade e de que forma a sociedade e os consumidores puderam se manifestar sobre as mudanças.

Também foi questionado se há alternativa para aqueles que desejam utilizar os diversos produtos, sem que haja uma interconexão de seus dados pessoais entre os diferentes produtos, como o gmail, o Google+, o YouTube, entre outros.

O departamento também pediu informações sobre como se dará a autorização do consumidor para a combinação de suas informações pessoais com os produtos, serviços e conteúdos acessados. O DPDC questionou ainda se o conteúdo privado dos emails poderá ser acessado pelo Google para fins de publicidade customizada.

Caso a empresa não cumpra a notificação, pode ser alvo de instauração de processo administrativo. A Agência Brasil procurou o Google, mas a empresa não se manifestou.


 
Facebook: alemães julgam localizador de amigos ilegal

Uma corte berlinense declarou que o Facebook deve informar melhor aos usuários o que faz com as informações contidas na conta de e-mails deles. Para grupos alemães de proteção de dados, a decisão é uma grande vitória.

Um tribunal em Berlim decidiu que a ferramenta Friend Finder (localizador de amigos, em português), que permite aos usuários do Facebook convidar novos amigos usando a agenda de endereços de e-mails, é ilegal na Alemanha.

Ao utilizar a ferramenta, o usuário informa seu endereço de e-mail e senha para o Facebook, que acessa a conta de e-mail e copia todos os contatos da agenda para seu banco de dados.

Para o tribunal, o Facebook não deixa claro para seus usuários que, ao usarem a ferramenta, eles estão repassando para a rede social todas as informações da sua agenda de endereços. Todos os endereços de e-mails ficam registrados no banco de dados, até mesmo os de pessoas que não estão no Facebook. Também não estaria claro para os usuários que essas pessoas são convidadas a se registrar no Facebook.

O tribunal também considerou, em sua decisão desta terça-feira, que partes das condições de uso do site do Facebook dão à rede social direitos excessivos sobre o material postado pelo usuário, como fotos ou músicas próprias. O tribunal considera que fotos e músicas continuam sendo propriedade do usuário e só podem ser utilizadas com o consentimento deste.

Especialistas alemães em assuntos legais aplaudiram a decisão, que pode ser o começo de uma ação judicial contra o Facebook na Alemanha. “A decisão foi acertada”, disse Thomas Hoeren, professor de leis de informática e mídia da Universidade de Münster. “As condições de uso do Facebook sempre violaram a lei alemã. Esse foi o primeiro tribunal a declarar isso claramente. Outros virão com certeza”, completou.

“O veredicto é um marco. O Facebook e outros sites têm que respeitar a proteção de dados na Europa”, comemorou Gerd Billen, chefe executivo da VZBV num comunicado no site da associação.

O Facebook ainda não se pronunciou sobre a decisão. “Vamos observar com cuidado os detalhes da decisão do tribunal, assim que eles estiverem disponíveis. Só assim poderemos saber como proceder”, declarou um porta-voz do site à DW por e-mail.

Com informações da Agência Brasil e Deustche Welle



quinta-feira, 8 de março de 2012

Ser Mulher

Uma pequena e justa homenagem as guerreiras, lutadoras, revolucionárias, serenas e ternas mulheres



quarta-feira, 7 de março de 2012

Viva as Mulheres!

Selvino Heck - Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República



Você chega em qualquer lugar, em qualquer canto, em qualquer repartição, em qualquer banco, em qualquer ônibus, em qualquer Palácio, em qualquer escritório, lá está uma mulher trabalhando, lá estão mulheres mostrando que foi-se o tempo em que o preconceito e o machismo eram mais fortes e elas eram ‘do lar’. Hoje estão na presidência da Petrobrás, estão no Supremo Tribunal Federal, hoje jogam futebol, são agricultoras, ministras, hoje são juízas de direito e de campo, engenheiras, mestres de obra, hoje são médicas, professoras, empresárias, reitoras, motoristas, deputadas, prefeitas, vereadoras, astronautas, governadoras, mecânicas, procuradoras, jornalistas, hoje são Presidenta da República, pois sim!

Hoje são do lar se assim o quiserem. Ou, como em muitos lugares e cada dia mais, do lar são os homens, ou também os homens, e por que não? Não são mais apenas elas que cozinham ou limpam a casa, as que ficam com os filhos enquanto eles trabalham, as que levam os cachorros a passear enquanto eles tomam sua cervejinha. Como não são mais apenas eles que consertam a pia ou os canos furados, entendem o barulho dos motores, como se houvesse algum segredo inalcançável nas paredes das casas ou nos carros modernos computadorizados. Tarefas são para serem divididas. Responsabilidades são para serem partilhadas. Ninguém é dono exclusivo do saber, do conhecimento e do poder.

E não faz tanto tempo que elas são donas do seu voto e nariz. São eleitoras, votam e podem ser votadas há apenas oitenta anos. Descontadas as ditaduras, não poucas, faz pouquíssimo tempo, meia dúzia de eleições. E já chegaram lá, na garra e no voto! Coordenam, planejam, distribuem a palavra. Só falta chegarem em postos de mando em algumas igrejas. Mas isso é uma questão de espera e de luta. Não vai demorar oitenta anos.

Há muito a avançar e conquistar. Há ainda preconceitos arraigados, há ainda olhares e gestos desconfiados, há ainda muros e torres a serem derrubados. Com filhos, sem filhos, solteiras, viúvas, separadas, elas fazem parte da humanidade que busca novas luzes, que ama profundamente a vida, quer repartir utopias, vê a emancipação de todas e todos como essencial, luta por direitos a direitos, direito ao prazer, à liberdade, à felicidade e pretende construir solidariamente novas estradas e caminhos.

Este é um novo tempo, o tempo do século XXI e do terceiro milênio. Barreiras ainda existentes serão derrubadas, novos ventos soprarão, até que mulheres e homens, homens e mulheres, mulheres e mulheres olharão um no olho do outro e saberão que, acima de tudo, são companheiras e companheiros, irmãs e irmãos, dar-se-ão as mãos em espírito e em verdade.

Até onde irão essas bravas mães guerreiras, essas jovens cientistas que pensam e fazem o mundo, constroem casas, pensam campos e jardins e tornam a vida de todas e todos mais fácil e digna de ser vivida? Essas mulheres que não se entregam nunca, que lutam contra a fome, a miséria, a pobreza e a desigualdade? O que poderão ainda projetar estas trabalhadoras da palavra e do gesto, estas promotoras da paz e da justiça, estas protagonistas do amanhã e da vida, estas plantadoras de luz e utopia?

Desconfio que não há limites nem horizontes, a não ser sua imaginação, coragem e sonhos. O horizonte está sempre além e adiante. Sem perder a ternura, o charme, o sorriso, a alegria de ser e viver, e a vontade de mudar o mundo.

O tempo urge.

Viva as mulheres!

Em sete de março de dois mil doze.

Pesquisa avalia disparidade entre os sexos na educação, na atividade econômica e no empoderamento

Por Natasha Pitts - Jornalista da Adital

Nas proximidades do 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a rede internacional de grupos cidadãos Social Watch publicou o Índice de Equidade de Gênero 2012. A pesquisa, criada para avaliar a disparidade entre os sexos, leva em consideração critérios como educação, atividade econômica e empoderamento da mulher. Mais de 150 países foram avaliados e listados em um ranking de igualdade de gênero.

Na pesquisa, os países podem receber notas que vão até 100, o que representa a igualdade total, mas nenhum deles chegou a este patamar. Nem mesmo a nota 90, que considera a situação de igualdade "aceitável” foi obtida. Nos ranking dos dez primeiros países estão: Noruega (0,89), Finlândia (0,88), Islândia (0,87), Suécia (0,87), Dinamarca (0,84), Nova Zelândia (0,82), Espanha (0,81), Mongólia (0,81), Canadá (0,80) e Alemanha (0,80).

Na outra ponta, os países que ocuparam as posições mais precárias foram: Índia (0,37), Congo (0,36), Mali (0,32), Costa do Marfim (0,32), Paquistão (0,29), República Democrática do Congo (0,29), Nigéria (0,26), Chade (0,25), Iêmen (0,24) e Afeganistão (0,15).

No que diz respeito aos países da América Latina e do Caribe, Trinidad e Togabo e Panamá foram ao mais bem colocados, com 0,78 e 0,76 pontos, respectivamente. Em contrapartida, os três da região em pior situação foram: El Salvador com 0,62, Guatemala com 0,49 e Haiti com 0,48 pontos.

Entre países do Mercado Comum do Sul (Mercosul) as notas foram intermediárias. Uruguai e Argentina apresentaram Índice de Equidade de Gênero (IEG) 0,74, Paraguai 0,73 e na última posição do bloco ficou o Brasil com 0,72.

Silvia Camurça, integrante da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), reforça o que a própria pesquisa já mostra: que o problema do Brasil não está relacionado à educação, mas sim à atividade econômica e o empoderamento. Nestes quesitos, as notas do país foram 0,98; 0,75 e 0,43, respectivamente.

"A taxa de escolaridade das mulheres é mais alta, temos até dois anos a mais de estudos do que os homens, mas continuamos ganhando menos do que eles. Infelizmente, a educação não tem garantido maior renda. No Brasil, as mulheres ganham cerca de 70% do salário dos homens, enquanto em outros países este índice chega a 80, 85%”, esclarece.

Silvia também explica que a atividade econômica ajudou a puxar o Brasil para baixo nesse ranking, pois apesar de ter enfrentando bem a crise econômica que surgiu em 2008, o país gerou prioritariamente empregos na indústria branca, automobilística e nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que empregam os homens. Ao mesmo tempo, reduziu o orçamento para as áreas de educação e saúde, que são as que mais empregam mulheres.

Já o empoderamento, quesito em que o país recebeu a menor nota, é considerado por Silvia o mais importante. A ativista aponta que apesar de termos uma mulher na presidência temos poucas mulheres na política, situação que é sustentada por fatores como a "cumplicidade entre as alas patriarcais dos poderes”. Silvia avalia que depois da violência contra a mulher, a pior expressão do patriarcalismo é o bloqueio da entrada das mulheres na política.

Veja o Índice de Equidade de Gênero: http://www.socialwatch.org/es/node/14380

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Com Medellín, Deus passou pela América Latina. Com quem passa agora?

Tradução: ADITAL

Jon Sobrino - Teólogo

Reflexão para a Quaresma 2012.

Os dez anos de Medellín (1968) a Puebla (1979) foram únicos na época moderna da Igreja Católica na América Latina, Depois, começou um declive ao que Aparecida (2007) quis colocar freio, apesar de que ainda temos muito que fazer.

Ao fazer essa avaliação, não nos fixamos na igreja tal como a analisam os sociólogos, mas nos fixamos na "passagem de Deus”. Sem dúvida, é mais difícil calibrar; porém, toca a dimensão mais profunda da Igreja e ao serviço de que ela deve estar. Definitivamente, qual a contribuição que ela dá aos seres humanos e ao mundo como um todo. E, obviamente, temos que perguntar-nos "que Deus” é esse que passa pela história em um momento dado.

Medellín

Foi um salto qualitativo. Os pobres irromperam e, neles, Deus irrompeu. Foi um fato fundante que penetrou na fé de muitos e configurou a Igreja.

Surpreendentemente, para a assembleia de bispos, a prioridade não foi da igreja em si mesma; foi do mundo dos pobres e vítimas; isto é, da criação de Deus. Suas primeiras palavras proclamam a realidade do continente: "uma pobreza massiva produto da injustiça”. Os bispos atuaram, antes de tudo, como seres humanos e deixaram falar a realidade que clamava aos céus. São os clamores que Deus escutou no Êxodo; o fizeram sair de si mesmo e, decididamente, entrou na história. Da mesma forma, com Medellín, Deus entrou na história latino-americana.

A partir dessa irrupção dos pobres e de Deus neles, Medellín pensou o que é ser Igreja, qual é sua identidade e missão fundamental e qual deve ser seu modo de estar em um mundo de pobres. A resposta foi "uma igreja dos pobres”, semelhante à ilusão que tiveram João XXIII e o cardeal Lercaro. No Concílio, não prosperou; em Medellín, sim. A Igreja sentiu compaixão pelos oprimidos e decidiu trabalhar por sua libertação. Por muitos, com maior ou menor consciência explícita, foi acolhida como bênção. Por outros, foi percebida, com razão, como grave perigo.

Logo o poder reagiu. Em 1968, Nelson Rockfeller escreveu um relatório sobre o que estava acontecendo, e essa Igreja, nova e perigosa, tinha que ser debilitada e freada; o mesmo aconteceu no começo da administração Reagan. Oligarquias com o capital, com exércitos, esquadrões da morte, desencadearam uma perseguição contra a Igreja, desconhecida na história da América Latina. A perseguição reiterada deixou às claras a novidade e o evangélico que estava acontecendo: A Igreja de Medellín estava com o povo pobre e perseguido e teve a sua mesma sorte. Milhares foram assassinados, entre eles meia dezena de bispos, dezenas de sacerdotes, religiosos e religiosas, e uma multidão de leigos, mulheres e homens. Com limitações, erros e pecados, era uma Igreja muito mais casta do que meretriz; muito mais evangélica do que mundana.

No interior da Igreja Católica, Paulo VI propiciou e animou essa nova Igreja; porém, altas personalidades da Cúria Romana e de outras cúrias locais a desqualificaram, trataram mal e injustamente a seus representantes, também a bispos e desenharam uma igreja alternativa, diferente e contrária, mais devocional, intimista, de movimentos, submissos a defensores da hierarquia. E o que teria que ser evitado era que a Igreja voltasse a entrar em conflito com os poderosos. A igreja popular, nascida ao redor de Medellín, crente e lúcida, de comunidades de base, que vivia a pobreza do continente, sofreu a dupla perseguição do mundo opressor e, com alguma frequência, da própria igreja.

Uma Igreja assim foi testemunha e seguidora de Jesus de Nazaré. Encarnada, defensora e companheira dos pobres; carregava a cruz e, com frequência, nela morria. Anunciou a Boa Notícia, como Jesus na Sinagoga de Nazaré. Teve seus "doze apóstolos”, os Padres da igreja latino-americana, com Dom Helder Camara, um dos pioneiros; com Enrique Angelelli, Dom Sergio Méndez Arceo, Leonidas Proaño, Dom Romero, pastor e mártir do continente e outros. Chegou a ser ekklesia, na qual mulheres e homens, religiosas e leigos, latino-americanos e estrangeiros chegaram a formar corpo eclesial, uma grnade comunidade de vida e missão. Entre os de casa e os de longe, gerou-se uma solidariedade nunca vista. Cresceu a esperança e o gozo. E do amor dos mártires nasceu uma brisa de ressurreição, alheia a toda alienação, que voltava a remeter à história para nela viver como ressuscitados.

Nessa Igreja, soprava o Espírito, o espírito de Jesus e o espírito dos pobres. Esse espírito inspirava oração, liturgia, música, arte. E também inspirava homilias proféticas, cartas pastorais lúcidas, textos teológicos de casa; não textos simplesmente importados que não haviam passado pelo crisol de Medellín.

No centro de tudo estava o evangelho de Jesus. Lucas 4,16: "Eu vim para anunciar a boa notícia aos pobres, para libertar os cativos”. Mateus 25,36-41: "Tive fome e me deram de comer”. João 15,13: "Ninguém tem mais amor do que o que dá a vida pelos irmãos”. E Jesus de Nazaré, o crucificado ressuscitado, Atos dos Apóstolos, 2,23: "A quem vocês mataram, Deus devolveu à vida”.

E agora?

Pesquisas, estudos sociológicos e antropológicos, econômicos e políticos oferecem dados e explicações sobre a Igreja Católica e outras igrejas cristãs. Nos dizem se subimos ou baixamos em número e em fluxo na sociedade. A partir dessa perspectiva, nada tenho que acrescentar. E estritamente falando, tampouco é minha maior preocupação qual será o futuro do que chamamos "Igreja”, apesar de que nela tenho vivido e vivo, e me acostumei a pertencer à família.

O que me interessa e alegra é que "Deus passe por esse mundo”. E a razão é simples. O mundo está "gravemente enfermo”, dizia Ellacuría, "enfermo de morte”, diz Jean Ziegler. Isto é, necessita de salvação e cura. Por isso, como crente e como ser humano, desejo que "Deus passe por esse mundo”, pois essa passagem sempre traz salvação às pessoas e ao mundo em seu conjunto. Tivemos a sorte de sentir essa passagem de Deus com Medellín, com Dom Romero, com muitas comunidades populares. Com muitas pessoas boas, simples, em sua maioria. Com uma plêiade de mártires. E também, apesar de que isso só se pode sentir "em um difícil ato de fé”, como dizia Ellacuría ao explicar a salvação que traz o servo sofredor de Isaías, com o povo crucificado.

Como estamos hoje? Seria cometer um grave erro cair em simplismos sobre coisas tão serias. Seria injusto não ver o bom que, de muitas formas, existe nas igrejas. E seria arrogante não tentar descobri-lo, apesar de que, às vezes, se esconda por trás de uma capa que não remete com clareza a Jesus de Nazaré. De todo modo, a passagem de "Deus” sempre será mistério inescrutável, e somente com o máximo de respeito a todos os seres humanos podemos falar disso. Porém, com todas essas cautelas algo se pode dizer. Mencionaremos as realidades dos fieis e de suas comunidades; porém, temos em mente, sobretudo, às instâncias, altas em hierarquia, historicamente muito responsáveis pelo que acontece, e às que não se pode pedir contas com eficácia. Com simplicidade, dou minha visão pessoal.

De diversas formas, abunda o pentecostalismo, como forma de igreja distante dos problemas reais de vida e morte das maiorias, apesar de que traz ânimo e consolo aos pobres, o que não é desdenhar quando não têm onde apoiar-se para que sua vida tenha sentido – distinta é a situação em classes mais bem de vida. Prolifera um grande número de movimentos, dezenas deles, proliferam os meios de comunicação das igrejas, emissoras de rádio e TV, submissos em excesso a ideais e normas que provêm de cúrias, sem dar sensação de liberdade para que eles mesmos tomem em suas mãos o evangelho que anuncia a boa nova para os pobres, em forma de justiça, e sem suspeitar da necessidade de um estudo, reflexivo, minimamente científico, da Palavra de Deus, e, em geral, da teologia que o Vaticano II e Medellín propiciaram. Proliferam devoções de todo tipo, as de antes e as de agora. Jesus de Nazaré, o que passou fazendo o bem e morreu crucificado, é deixado de lado com facilidade em favor do menino Jesus, seja de Atocha, de Praga, o Deus menino, dito com grande respeito. Com facilidade se dilui o Jesus forte da Galileia, do Jordão; o profeta de denúncias ao redor do templo de Jerusalém em favor de devoções baseadas em aparições, com um transfundo sentimental e melífluo em excesso. Falando com simplicidade, a divina providência pode atrair mais do que o Pai de Jesus, o Filho que é Jesus de Nazaré, e o Espírito Santo, que é Senhor e doador de vida, e Pai dos pobres, como se canta no hino de Pentecostes.

Hoje, em seu conjunto, é difícil encontrar na Igreja a liberdade dos filhos e filhas de Deus, a liberdade ante o poder, que não por ser sagrado deixa de ser poder. Nota-se a excessivo servilismo e submissão a tudo o que seja hierarquia, o que chega a converter-se em medo paralisante. A partir das instâncias de poder eclesial, aponta o triunfalismo e o que chamo a pastoral da apoteose, multitudinária, midiática. Em muitos seminários, o discorrer e pensar são substituídos pelo memorizar. Nas reuniões do clero, pelo que sabemos, as perguntas, a discussão e o debate são substituídos pelo silêncio. As cartas pastorais dos anos 70 e 80 –verdadeiro orgulho das igrejas, que reverdecem de vez em quando, na Guatemala, por exemplo- são substituídas por breves mensagens, cheias de modos e comedidas, com argumentos tomados das últimas encíclicas do papa. O centro institucional não parece estar na América Latina, mas na distante Roma. Tudo isso está dito com respeito.

Como será a passagem de Deus pela América Latina e com quem passará está por ver-se, e, definitivamente, é coisa de Deus. Porém, é coisa nossa desejá-lo, trabalhar por isso e aprender a forma como se deu no passado, em Medellín.

Bom é saber e analisar os vai-e-vem dos fieis e o influxo das Igrejas na sociedade. Pelo que dizem os dados, em ambas as coisas, a Igreja Católica vai a menos. Porém, devemos ter presentes as raízes de cuja seiva tem vivido a passagem de Deus. E regá-la humildemente, com águas vivas.

Ainda estamos por ver o que acontecerá com nossa igreja e com todas as igrejas. Meu desejo é que, aconteça o que acontecer, seja para colocar-se a serviço da passagem de Deus por esse mundo, o Deus de Jesus, compassivo, profeta e crucificado. E o Deus doador de esperança.

Estas são as perguntas que sempre podemos fazer. Porém, quem sabe é bom fazê-las no começo da quaresma. Esse tempo nos exige resistência para caminhar rumo a Jerusalém. E nos oferece esperança de encontrar-nos com Jesus crucificado e ressuscitado.