sábado, 30 de março de 2013

Paixão, Morte e Ressurreição: nossa travessia

Mário Moura - Educador e Poeta.

Há um hino da liturgia cristã da Páscoa, que nos vem do século XIII, que se canta: "a vida e a morte travaram um duelo; o Senhor da vida foi morto, mas eis que agora reina vivo”. Aí está o sentido cristão da Páscoa e seu Mistério: o que parecia derrota era, na verdade, uma estratégia para vencer a morte. Na sepultura de Jesus não cresceu a grama, porém ressuscitado, garantiu o poder supremo da vida. Nesse duelo a vida venceu a morte!

Essa mensagem está presente no mais profundo sentido humano que é a religião, contudo o seu significado não se inscreve apenas nela. Hoje mais que nunca tem uma relevância cósmica – universal - onde travamos esse duelo contínuo, presente em todo planeta Terra, abrangendo toda a comunidade de vida – inclusive a humana.

Existe um combate entre os mecanismos naturais da vida e os mecanismos artificiais que produzem a morte graças ao nosso modo de conceber a vida e a natureza, de ver, de pensar e de agir. O nosso jeito de morar, produzir, consumir e de tratar o lixo – os despejos – nos desumanizam. Nós humanos somos os primeiros a serem afetados por esse sistema. Maioria não tem as condições mínimas para viver com dignidade, subjugadas em todas as dimensões e imoladas pelas inúmeras guerras e pela fome insaciável das grandes corporações que só enxergam o lucro. A humanidade se encontra dividida entre aqueles 20% (1,3 bilhão) que controlam 83% das riquezas e dos recursos da natureza, consumindo pomposamente e que se consideram incluídos no sistema mundial da globalização e os 80% da população mundial (5,2 bilhões) que devem se contentar com os restantes 20% de meios de vida, excluídos dos benefícios da moderna sociedade de informação e de conhecimento. As outras vítimas são todos os ecossistemas, a biodiversidade e o planeta Terra como um todo.

Estamos na semana da Paixão. Cristo foi perseguido e assassinado porque queria a vida em abundância (Jo 10,10), o que o sistema político e religioso de sua época privava à maioria do povo. Morreu na cruz porque pregou o amor, a verdade e o Reino (Mt 5, 1-12).

O sistema econômico, político e religioso atuais leva à morte quem prega a vida, quem luta pela igualdade e justiça, quem quer a democracia.

A morte de Jesus não foi definitiva. No domingo de Páscoa, houve a passagem e a Ressurreição. Sua mensagem continua viva e atualíssima, afiada na sua Verdade e proposta de Justiça. Os caminhos que temos percorrido nos últimos séculos, optando pela acumulação ilimitada de ganhos, a apropriação indevida dos recursos públicos, a corrupção e a exploração sem freios dos recursos naturais da Terra, só trazem paixão e morte e não nos levam a passagem – a Páscoa.

Cuidar do nosso único planeta, cuidar dos seres vivos, cuidar por uma sociedade sustentável, cuidar do outro, cuidar dos pobres e excluídos, eis a nossa Páscoa! E essa travessia não se faz sem espanto-admiração, contradições entre o velho que teima em ficar e o novo que se empenha em nascer, sem sofrimentos consideráveis.

Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência diante da vida, por um compromisso firme de se alcançar a justiça e a paz e percorrer os caminhos do amor e a alegre celebração da vida.

Feliz Páscoa a todos e todas.

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