quarta-feira, 25 de setembro de 2019

E A FELICIDADE?

Mário Moura - Educador e Poeta.

Ser feliz é algo passageiro, e estar/ficar feliz é algo retilíneo e contínuo. Para Mario Sergio Cortella “Se a felicidade pudesse ser um estado contínuo, nós não a perceberíamos, assim como não percebemos nossa respiração, exceto carência, quando o ar nos falta.”. No dia a dia temos que transformar a felicidade não numa técnica, mas em arte: a arte da convivência, de saber renunciar, de relativizar os problemas e a arte mais sútil está nas pequenas coisas e isto é muito simbólico.

O capitalismo se tornou a cultura do capital e nós somos vítimas dessa cultura. Temos que trocar o sapato, o aparelho celular, a roupa, a tv... é uma situação sem fim, na ilusão que o consumo traz a felicidade. Eis o desafio: como ser feliz? Para Saint-Exupéry no livro Cidadela, o ser humano é um nó de relações voltadas em todas as direções. Onde está a felicidade? Santo Tomás de Aquino diz que tudo que nós fazemos mesmo quando praticamos o mal, estamos fazendo em busca da felicidade. Isso vale para a Santa Dulce dos Pobres, vale para Suzane Von Richthofen, vale para Malala Yousafzai, vale para Jair Bolsonaro, vale para mim e a você. A felicidade depende basicamente do sentido que nós imprimimos a nossa vida.

O sistema hoje nos incute, principalmente nos jovens, quatro falsos valores que vem movendo gerações: poder, riqueza, fama e beleza. Faltou isso haja depressão, medicamentos, terapia... mais uma vez: nessa cultura consumista, nós somos/estamos condenados a infelicidade.

A felicidade é simples e nós perdemos um pouco essa percepção da felicidade como simplicidade do gesto, do abraço, do afago, da partilha. Simplicidade e não banalidade. A felicidade não é constante, mas também não é ausente. Ela tem que ser procurada, onde pode ser encontrada. Ela pode ser encontrada de dentro e de fora se estiver no simples e na capacidade da bem-aventurança.

A felicidade é possível num mundo de desespero? Claro que sim, desde que nós não obscureçamos os momentos em que ela possa vir à tona. Detalhe: a felicidade não vem à tona sozinha, ela tem que ser gestada nesse tempo, nós temos que escavá-la.

A ideia de felicidade está ligada a ideia de fertilidade. Nos sentimos felizes quando sentimos que a vida não cessa, que ela pulsa em nós, naquele gesto, naquele movimento, naquela utopia, naquele desejo... neste sentido, a felicidade é altamente erótica, isto é, ela é uma energia de movimento vital possuindo uma sensualidade e quando nos sentimos num momento feliz, nos sentimos bem à beça. Nos sentimos cheios de graça. E como nos aconselhou Mário Quintana: “Felicidade não é correr atrás de borboletas, mas cuidar do jardim para atraí-las.”.

Um comentário:

Unknown disse...

A mais pura realidade

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